Um andar com trem regional, outro com metrô e por aí vai…
Ao retornar ao Brasil no início de setembro voltei tendo zerado tudo que considerava bom em termos de transporte público. Simplesmente não há como comparar tudo o que já tinha visto com o que usei na Alemanha. É outro nível, outro padrão. Distinto por completo de qualquer sistema brasileiro, argentino, colombiano etc.
Eficiência e coexistência são as diretrizes. Ônibus, trens, metrô, bicicleta. Há caminho, espaço e horário para todos. Claro que minha opinião pode soar vazia por não ter morado e vivenciado o dia a dia de cidades como Berlim, Munique ou Londres, mas não me pareceu nenhum pouco motivante ter um automóvel. Isso porque o transporte público funciona e é bem equipado.
Perto de cada estação de trem em diversas cidades alemãs existem bicicletários, que muitas vezes estão lotados, atrolhados. Nas ruas, há ciclovias – demarcadas sutilmente entre ruas e calçadas, sem estardalhaço. Ao menos em Munique e em Berlim, boa parte das paradas têm um contador regressivo indicando o tempo restante para o ônibus seguinte. E o mesmo bilhete do metrô vale para o ônibus e os trens externos, que são uma espécie de bonde.
Já os trens intermunicipais da Deutsch Bahn – uma empresa privada – cruzam o país com conforto (quase sempre), eficiência e muitas conexões para tudo o que é lugar. Até atrasam um pouco, mas quando isso ocorre, mesmo que seja cinco minutos, o fato é informado na estação. Se passa de dez minutos, como presenciei uma vez, o povo resmunga na estação.
Não existe isso de “vou chegar entre 16h30 e 17h”, existe sim o “vou chegar às 16h47”. Até pouco a DB não tinha concorrentes, mas hoje já se realizam viagens de ônibus pelo interior da Alemanha.
A linha 1, a mais antiga do metrô de Berlim, passando sobre o rio Spree
Grande símbolo dos protestos de junho, a catraca praticamente inexiste em terras germânicas. Tu compras um bilhete e vai andar, seja onde for, em metrô, trem ou ônibus. Em algum momento, o cobrador pode aparecer e pedir para conferir o teu bilhete. Mas em muitas vezes, para não dizer a maioria, ele nem dá às caras.
Se houver um flagrante de alguém tentar ser malandro, além de um grande constrangimento (em alemão) o sujeito terá de arcar com uma multa bem superior ao valor da passagem: € 40. A reincidência pode gerar até detenção.
Logo, é meio que tudo na base da confiança entre as duas partes. Enquanto as empresas oferecem um transporte de qualidade, o público o mantém, pagando tarifa e não depredando ou sujando os coletivos.
Rápidas (ou nem tanto)
A movimentada estação de Augsburg em fim de tarde
Para as nossas viagens dentro da Alemanha, compramos um passe da DB. Quatro dias de trem liberado para onde quer que seja por € 302. Ao todo, foram cerca de 1,5 mil quilômetros rodados entre idas e vindas. E nem todas a vezes pediram para conferir o bilhete, no qual nós mesmos deveríamos anotar o dia em que usamos.
Em Munique, pagamos pouco mais de € 10 para ter um dia liberado no metrô. O valor liberava de duas a cinco pessoas apenas na área branca, correspondente ao centro da cidade até a Allianz Arena (que já é um pouco mais afastado). Ficou para recordação, pois em nenhuma vez nas quatro viagens de trem ou no passeio de ônibus apareceu o cobrador. Em Berlim, foi um pouco mais caro, mas para quem tira o dia para conhecer muitos lugares vale a pena. Outra vez a passagem ficou apenas para recordação.
A parada informa quantos minutos falta para chegar o ônibus
A única viagem de trem que realmente não valeu a pena foi o trecho Berlim-Paris. Mas aí, fora o desconforto da segunda classe do trem noturno – no qual em cada cabine ficam seis pessoas que nem podem reclinar os bancos – assuntos pessoais também atrapalharam, como ter o azar de sentar ao lado de um francês bêbado, expansivo e mau sujeito. Menos mal que deu para trocar de lugar.