João Derly por mais de um ângulo

   Escrever sobre João Derly não é novidade alguma para mim. Já são quatro anos de convivência com ele, desde os tempos de estágio na Sogipa. Ainda que não seja diária, já rendeu uma amizade agradável. Mas, além disso, temos um vínculo profissional por dois caminhos: eventualmente ele é pauta quando sou repórter do Correio do Povo, e sempre é minha pauta quando estou trajado de assessor de imprensa da Federação Gaúcha de Judô.
   Pra quem não sabe, dias atrás ele voltou a lutar depois de um longo período machucado. Infelizmente, lesionou-se de novo. Passados uns dias de tensão, saiu o diagnóstico, que comprova: o sonho olímpico de João, ainda que difícil, segue vivo. Para alívio dele, que passou mais de uma semana de angústia e incerteza. E minha também, por ver alguém que posso chamar de amigo cheio de esperança e motivado para ir em frente.
   O texto abaixo fiz para o site da FGJ e foi publicado uns dias atrás. Gostei dele, escrito de maneira espontânea ainda que a trabalho, após poucos minutos de conversa/entrevista com ele. Trouxe pra cá também:

Aliviado e motivado, João Derly já inicia recuperação visando Londres

   “Foi um alívio”, confessou João Derly, nesta quarta-feira, após a concorrida entrevista coletiva na qual ele, o médico Luiz Marczyk e o técnico Antônio Carlos Pereira, o Kiko, explicaram a lesão sofrida pelo bicampeão mundial durante a seletiva nacional, no mês passado. O judoca sofreu um estiramento no ligamento e está descartada a possibilidade de cirurgia no local.
   Mas o susto foi grande. Bicampeão do mundo, acostumado a grandes conquistas e a enfrentar desafios, Derly sentiu medo quando teve de abandonar a luta contra Marcelo Contini. “Achei que tinha ‘estourado’. Pouco depois, passou o filme na cabeça sobre a cirurgia, a demorada recuperação. Cheguei a pensar que a Olimpíada tinha acabado para mim”, revelou.
   Dois dias depois da seletiva em Vitória, João Derly voltou a Porto Alegre para realizar exames. Os resultados incertos aumentaram a dúvida se o ligamento cruzado havia ou não rompido, o que significaria mais seis meses de tratamento e consequentemente o fim do sonho olímpico. O pior, entretanto, não se confirmou. O novo diagnóstico apontou estiramento no ligamento medial e uma pequena lesão no menisco. “No máximo, o que vai acontecer é uma artroscopia.”
   A notícia foi recebida com alegria pelo atleta, e seus colegas de clube, além de ter sido capaz de devolver o costumeiro sorriso ao rosto do bicampeão mundial, e, claro, de manter acesa a esperança de estar em Londres no ano que vem, para disputa dos Jogos Olímpicos. Os primeiros passos para chegar lá são as duas competições no Brasil: “Agora eu estou confirmado no Grand Slam do Rio e na Copa do Mundo de São Paulo”, ressaltou Derly. “Vou chegar lá e colocar para cima aqueles japonesinhos”, brincou, novamente, aos risos.

Na tensão, momentos de carinho

   Os dez dias de incerteza foram torturantes. O joelho inchado e o diagnóstico impreciso tiraram um pouco do sono do bicampeão mundial. Mas o carinho recebido por fãs em todos os lugares foi fundamental. “Cheguei a explicar para umas dez pessoas a minha lesão quando fui num mercado. Todas vieram falar comigo para me desejar recuperação”, contou.
   Mas agora o momento será de concentração. Derly já iniciou a sua recuperação com sessões de fisioterapia, em uma academia de Porto Alegre. “Ainda não tenho uma data certa para retornar aos treinos no tatame, mas já faço musculação para reforçar o machucado”, disse. “Vou me resguardar para ter a melhor recuperação possível.”

Aquilo que se guarda

     O ônibus ia rompendo a madrugada da BR-101 entre Porto Alegre e Florianópolis. Todos dormiam, mas a minha cabeça não. Pensava, talvez mais rápido que o próprio veículo. É fim de ano, época de promessas e blábláblá.
     2008 foi corrido. 2009 provavelmente seja ainda mais. Refleti então sobre o que mais me marcou no que passou? A monografia, os elogios, a banca? Não. Curiosamente, o minuto que quis reviver foi quando fiz alguém chorar.
     O dia era 27 de novembro. Eu estava fechando um ciclo na minha vida. Era hora de seguir por outros caminhos. Hora do até breve, do tchau e do adeus. Foram poucas lágrimas, é verdade. Porém, eram verdadeiras. E isso marcou.
     Num mundo onde a concorrência no trabalho é, por vezes, desleal e até injusta, fazer uma grande amizade – ou várias – em meio a tantas disputas e desacertos é gratificante e, em certos casos, emocionante.
     No apagar das luzes (e estourar dos foguetes) de 2008, desejo que sintas isso, caro(a) leitor. Satisfação – assim, com S maiúsculo.

Três momentos da semana

Segunda-feira (08/09), Teatro do Bourbon Country, 21h30
     Quase havia me esquecido, mas o rock ainda existe. Falo de rock – e não punk, emo e outras diversidades. “Ronquenrol”, brother. The Hives mostrou-me isso. Fui ao show deles com a mesma sensação de quem visita um lugar desconhecido. Pode ser legal, valer a pena, mas, ao mesmo tempo, pode ser uma grandiosa merda… Até baixei umas músicas antes, porém nada que me apetecesse muito. 
     Cheguei ao teatro pasmo, pois recém tinha me dado conta que, pela primeira vez na minha vida, estava indo ao show de uma banda… sueca. “Será que uma banda sueca faria bem aos meus ouvidos?”, era a minha dúvida, que foi resolvida logo nos primeiros minutos da apresentação. Com a língua enrolada, o vocalista falava a toda hora coisas como: “everybody batam palmas com u The Hives”, “gritaí Pourto Alegrue”, o que só aumentava a integração entre banda e público – já enlouquecido pelos pulos e performances, principalmente, do vocal e do guitarra.
     No fim, da mesma forma como gostei muito de cervejas panamenhas e cubanas, a música sueca agradou-me bastante. Os dois dias seguintes com zumbido constante no ouvido certamente valeram a pena. Como diz o mestre Leonam: “Desculpa, se eu achar outra expressão que resuma melhor, vou usá-la, mas, por enquanto, só posso dizer: ‘é do caralho!!!'” – clica aqui e vê as fotos.
     E, definitivamente, 2008 está sendo o ano em que mais conheci coisas novas do estrangeiro!

Sexta-feira (12/09), redação da RBS TV, 18h15
     Eu, assessor de imprensa da Federação Gaúcha de Judô, Juarez Weinmann, vice-presidente da mesma, e Rochele Nunes, judoca da Ulbra, esperávamos para entrar no estúdio do TV Com Esportes, onde eles falariam sobre o VII Troféu Brasil de Judô, no dia seguinte. Passava um monte de gente, um monte de jornalista que só via pela TV. Só uma eu conhecia pessoalmente: Laura Medina – que, como o sobrenome denuncia, é minha parente, prima da minha mãe.
     Fazia um tempo que não nos víamos e mais tempo ainda desde a última vez que conversamos. Sou muito grato a ela, porque ela sempre me ajudou – principalmente com livros no começo da faculdade. A Laura foi uma das primeiras pessoas que ficou sabendo que eu havia passado no vestibular para jornalismo. Um detalhe, ela é apresentadora do “Vida & Saúde“, programa da RBS TV, trabalha lá há um bom tempo. O sonho de muitos formandos como eu é ser colega da Laura.
     De repente, até poderia ter tentado alguma indicação com ela lá. Acho que, se possível, seria favorecido. Porém nunca pensei assim (burrice, talvez?). No jornalismo, quero formar um nome, uma carreira, com o meu trabalho e não por pistolão. E isso que estava acontecendo naquele momento na redação da RBS. Disse que era o assessor daquelas pessoas ali e o sorriso da Laura tornou-se permanente para mim.
     Pode não ter sido nada demais, apenas impressão, mas eu senti uma ponta de orgulho ali. Orgulho de mim! Dela comigo. E isso, confesso, me deixou feliz também.

Sábado (13/09), no carro indo para o Menino Deus, 22h47
     Desliguei o meu notebook às 22h36, horário em que o trabalho do estagiário da Assessoria de Imprensa da Sogipa terminou. O dia foi corrido. Teve competição importante de judô que, pela primeira vez, o clube saiu como campeão. Fiz a cobertura para o site durante nove horas do ensolarado sábado porto-alegrense. Fiquei mais tempo assistindo a lutas de um monte de atletas, sem sequer conhecê-los, do que com meu pai – que mora a 500km de mim e naquele momento estava a 5km, que eu não o via há dois meses e que ia embora dali a 20 horas. Foi cansativo, foi duro, mas cumpri o meu dever. Encerrado o “expediente”, ainda jantaria com o meu velho e, logo depois, iria a uma festa para ver minha namorada.
     No carro, indo buscar meu pai, lembrei da cena ocorrida minutos antes, na Sede Social. Entrei atucanado para publicar logo o bendito texto. Pedi licença, com o computador na mão, e fui a uma pequena sala com parede de vidro. De jeans e casaco, era observado com certa estranheza por pessoas de smoking e vestido longo na fila para entrar no Baile de Debutantes. Eu chamaria mais atenção do que um et verde naquele momento. Mas, azar. “Assim que se aprende”, como disse meu chefe.
     Em meio a algumas risadas por causa dessa lembrança, cansado, recém-saído do trabalho e com compromissos boêmios pela frente, senti o que realmente sou e nasci para ser um jornalista.

Uma epopéia olímpica

O texto “com emoção” para a próxima (e histórica) Revista da Sogipa

Por Tiago Medina e Fabrício Falkowski

     Beijing, 2008. Pela primeira vez na história, não apenas a Sogipa, mas o Rio Grande do Sul tinha a chance de conquistar a sua primeira medalha olímpica em esportes individuais. Em eventos de despedida, treinamentos ou mesmo caminhando pelo clube, João Derly, Tiago Camilo, Mayra Aguiar e Gustavo Trainini recebiam o carinho e o “boa sorte” de todos – desde o prefeito e a governadora até os pequenos do Projeto Criança. 
     Até o embarque para o outro lado do mundo, diferentes emoções tomavam conta dos representantes sogipanos no maior evento mundial. “Sempre pensava sozinho, na cama, quando ia dormir. Imaginava cada luta que teria pela frente”, revela Derly. Tiago Camilo, o único que já esteve em uma edição dos Jogos (e que tem um prata em Sydney no currículo), sonhava: “Cheguei a sonhar que na hora da pesagem estava acima do peso e, assim, seria eliminado. Apesar de estar bem, tomei cuidado com isso”.
     Mayra Aguiar tratou de fincar os pés no chão: “Sou nova ainda. Ainda competirei mais vezes nos Jogos Olímpicos, mas é bom para ganhar experiência”. Gustavo Trainini resumiu o sentimento de todos, com uma única frase: “Vou realizar meu sonho”, disse ele, que há quatro anos olhou, pela TV, as competições de Tiro com Arco em Atenas e prometeu a si mesmo: iria a Beijing.
 
O baile e a coincidência

     Recebido o calendário dos Jogos, uma surpresa. Por coincidência, João Derly – que defende as cores da Sogipa desde 1988 – subiria no tatame em 10 de agosto, no 141º aniversário do clube. Na mesma hora dos combates, uma das instituições mais tradicionais do Rio Grande do Sul estaria reunida para comemorar mais um ano de vida. Logo, pensou-se, “por que não reunir esporte e sociedade numa mesma festa?”.
     Então, pela primeira vez, o Baile de Aniversário da Sogipa contou com um telão para acompanhar os Jogos. Não seria uma distância de 17 mil quilômetros que impediria os sogipanos de torcer, vibrar e emanar vibrações positivas a um dos seus filhos mais vitoriosos, que tantas vezes já representou o preto, o vermelho e o branco do clube.
     Na primeira luta de João, muitos sentimentos confundiam-se, tanto em Beijing, quanto em Porto Alegre. “Estréia é sempre mais difícil”, sabiam todos. O adversário, Joo-Jin Kim, da Coréia do Sul, impunha respeito mesmo a um bicampeão do mundo. Em seis disputas em 2008, tinha 100% de aproveitamento, inclusive tendo conquistado a Super Copa do Mundo de Paris, terceiro título mais importante do judô.
     A luta fez o Baile de Aniversário parar em Porto Alegre. Para quem não entende nada de judô, estava um agarra-agarra danado. Já quem conhece, percebeu: a disputa estava equilibrada. Cinco minutos depois, João saiu aliviado do dojô. Venceu por koka. No Salão de Festas e Eventos, a comemoração foi parelha a de um gol da Seleção em Copa do Mundo. Não poderia deixar de ser assim, afinal, João era a Seleção e a Olimpíada, a Copa – ou algo bem maior – um sonho.
     E tal qual o maior evento de futebol do planeta, os Jogos Olímpicos também têm suas zebras. A da categoria de João, por exemplo, atendeu pelo nome de Pedro Dias. Seu currículo não chega a fazer sombra ao do sogipano. E nem sempre os favoritos ganham. Em um combate truncado e de poucas chances, o lusitano levou a melhor.
     Protestos como “o árbitro errou!”, “o waza-ari foi para o João!” foram bastante escutados, tanto na TV, como na rádio e no Baile. Pode até ser. Porém, infelizmente, o sonho do ouro de João ficava pelo caminho. Ficava para 2012, em Londres.

O dia histórico

     O dia 12 de agosto nasceu feio em Porto Alegre. Fazia frio, chovia bastante, bem à moda do inverno gaúcho. Entretanto, quem disse que datas históricas e felizes precisam de sol, céu azul e calor? A manhã de 12 de agosto de 2008 tinha tudo para ser mais uma data em que a cama e as cobertas pareciam perfeitas, mas tornou-se uma das mais importantes da Sogipa, pois foi quando – pela primeira vez na história – um atleta do clube conquistou uma medalha olímpica em 141 anos.
     A inesperada derrota de João Derly pegou a todos de surpresa. Se o bicampeão mundial perdeu, qualquer um poderia ir ao chão. Além disso, ficou o aviso: os adversários estudaram muito bem os brasileiros. Tiago Camilo foi para o tatame consciente disso.
     Logo de cara, ele tinha pela frente um atleta oriundo do país-berço do judô. Mas a estréia de Tiago foi mais tranqüila que a de seu colega de clube e o japonês Takashi Ono não teve chances. Nem ele, nem o segundo oponente, Hamed Malek Mohammadi, do Irã, derrotado por ippon.
     Tiago parecia que ia manter o embalo que o elegeu melhor judoca de 2007. A Sogipa, o Rio Grande e o Brasil inteiro torciam para que continuasse assim. Contudo, os adversários fizeram o tema de casa e, depois de tanto estudar, um achou a fórmula que parecia não existir: como vencer Tiago Camilo.
     Ainda nem havia transcorrido os cinco minutos do round contra o alemão Ole Bischof e o improvável aconteceu: o placar indicava dois waza-ari – que equivale a um ippon e encerra a luta. Ole sorri e, Tiago, se mostra incrédulo. Estava perdida a batalha, mas não a guerra.

A medalha
 
     Reunir forças para recomeçar do zero e lutar por um bronze era o próximo obstáculo. Mas os verdadeiros campeões têm que saber perder. Tiago soube. Aceitou e levantou a cabeça, bem como prega a Carta Olímpica.
     Na repescagem, nada de moleza. Adversários respeitáveis estavam no caminho do sogipano. Na última disputa, a luta que valia o bronze, um confronto que tranqüilamente poderia ter sido a final olímpica: Tiago Camilo X Guillaume Elmont, da Holanda. O campeão mundial de 2007 contra o de 2005. No acirrado combate, o holandês sai na frente.
     Com o placar adverso, o tempo correndo contra e uma luxação na mão, o judoca da Sogipa precisaria dar o melhor de si para conquistar uma medalha. E assim foi feito. Primeiro com um belo waza-ari e depois com uma imobilização, o brasileiro partiu para a técnica de estrangulamento. Elmont não agüentou e deu três tapinhas pedindo o fim da luta. Vitória de Tiago. Vitória da garra. Superação, teu nome é Tiago Camilo!

E chegou o dia dela…
 
     De Mayra Aguiar, que competiu no dia seguinte ao de Tiago, poderia se esperar tudo. Por quê? Ela é talentosa, sem dúvida, no entanto, tem só 17 anos – a caçula brasileira no judô e uma das mais novas em toda delegação nacional.
     Apesar da pouca idade, coragem não lhe falta. Já provou que não é mais uma surpresa. Mayra é uma realidade. É até mais habilidosa do que muitas de suas adversárias, mas elas têm o que Mayra está recém conquistando: experiência. E foi por esse detalhe que a sogipana foi derrotada em seu debut olímpico. A espanhola Leire Iglesias – que estreou nos Jogos quando Mayra tinha 9 anos – teve que suar o quimono para passar de fase. Aplicou dois yukos. A brasileira poderia considerar-se derrotada, porém foi para cima e por pouco não empatou. Ficou a impressão: o pódio olímpico aguarda Mayra Aguiar.

O homem e as flechas
 
     Luiz Gustavo Trainini foi para a China como franco atirador, literalmente. Estar em Beijing já era uma vitória. O Brasil não enviava representante a Jogos Olímpicos na modalidade do Tiro com Arco há longos 16 anos. Na base do treino e do sacrifício, Trainini chegou lá. Treino, em casa. Sacrifício, do próprio bolso. Tudo em nome de um sonho. Agora, realizado.
     Na prova de ranquemento, Trainini classificou-se. Com o resultado, teria pela frente o sul-coreano Park Kyung-Mo. As chances de um brasileiro vencer um sul-coreano no Tiro com Arco são menores que as de um sul-coreano vencer um brasileiro em uma partida de futebol.
     Para (ainda mais) azar do sogipano, Park Kyung-Mo – que, em seguida, foi medalha de prata na competição – estava num dia inspirado. Fez 116 pontos (o recorde olímpico é 117) contra 99 do brasileiro. “Realmente, o coreano não deu chances, mas saio com a cabeça erguida de que fiz o meu melhor”, afirmou Trainini, após a prova.
     A Sogipa também!


Eu, Tiago e Fabrício

Um ano

     Às 21h dessa quarta-feira, 9 de janeiro, eu prestava atenção em discursos a fim de escrever um texto sobre a posse do presidente da Sogipa para depois atualizar o site e mandá-lo para a imprensa.
     Às 21h do mesmo 9 de janeiro, só que numa sexta-feira, em 2009, também estarei prestando atenção em discursos. Só que, nessa vez, vão me chamar. E, quando me chamarem, vão “conceder-me o grau de bacharel em Jornalismo” e, depois de quatro anos de faculdade, me tornarei um de verdade.
     Expectativas, muitas expectativas para 2008…

O exemplo de Yves

     Poucas cerimônias de promoção de faixas de judô foram tão emocionantes quanto a de 11 de dezembro de 2007, na Sogipa. Não pelo fato de que, sobre o tatame, estivesse o único brasileiro bicampeão mundial do esporte, muito menos pela presença de diferentes gerações, de veteranos a novatos, no dojô, e sim pelo grande astro da noite. Derly? Tiago? Mayra? Não, ele se chama Yves Dupont. O primeiro gaúcho portador de Síndrome de Down a alcançar a graduação máxima no judô: a faixa preta. 
     O caminho foi longo para Yves. Mais do que os 11 anos no tatame. Até o momento em que o bicampeão João Derly se agachasse em sua frente para amarrar a nova graduação na cintura foram muitos golpes. O primeiro deles, no preconceito. O atleta passou um ano apenas assistindo os treinos no dojô. Não queria lutar por se considerar “diferente” dos outros. Foi quando o professor Daniel Pires o convidou a tornar-se judoca e convenceu-o que não existe nenhuma pessoa igual a outra. Portanto, todos são diferentes. 
     Daí para frente aconteceram os aprendizados. Ele foi absorvendo toda a filosofia criada por Jigoro Kano no século XIX no Japão, e passou a aplicar kokas, yukos, waza-aris e ippons nos adversários. Sejam eles “normais” ou não. Sejam eles judocas ou a sociedade preconceituosa. A recompensa veio aos poucos. Medalhas, títulos e, o mais importante de tudo: respeito. Mesmo assim, foi difícil. Mas todo suor derramado, todos os momentos difíceis haveriam de ter sua recompensa. 
     Ela veio em 11 de dezembro de 2007, na cerimônia de promoção de faixas, uma das mais emocionante em 40 anos do judô sogipano. Redes de TV e repórteres de jornais vieram ao dojô do clube. Não para ver João Derly, Tiago Camilo ou Mayra Aguiar. Foram para ver Yves se tornar o primeiro gaúcho e segundo brasileiro a receber a faixa preta. “Temos aqui um verdadeiro campeão da vida”, disse Kiko, coordenador técnico do judô, enquanto lágrimas furtivas surgiam em boa parte das centenas de olhos que acompanhavam o evento.
     Palmas, muitas palmas, espocaram assim que Derly acabou de atar a faixa preta na cintura de Yves. Os dois se abraçaram, cumprimentaram-se e enxugaram o choro para posar para as fotos. Dois campeões juntos. Um servindo de exemplo para o outro. João, pelos títulos; Yves, pela superação. Ambos pelo exemplo.
     Aqui, a reportagem que passou em rede nacional…

Obs: pra quem não sabe, trabalho na Assessoria de Imprensa da Sogipa, um clube aqui de Porto Alegre, onde treinam os campeões mundiais de judô João Derly e Tiago Camilo. Ontem, O Yves, esse menino, de 18 anos, chegou a faixa preta. Podia ser só mais uma promoção de faixa, mas chamou a atenção toda a superação que esse guri teve. De riso fácil, pareceu ser querido por todos. Acompanhei toda cerimônia. Foi bastante emocionante. Muitas pessoas, incluindo gente que nem conhecia toda história, choraram de tão bonito que foi. Eu mesmo, tive que me conter pra manter meu orgulho masculino. Por incrível pareça, não que eu seja lá muito experiente, me emocionei trabalhando, pela primeira vez. Tanto que nem precisava fazer matéria sobre o assunto, mas merecia, né?! Ah, além de ser o primeiro gaúcho e segundo brasileiro, Yves é o faixa preta portador de síndrome de Down mais novo do mundo. E parabéns ao Jefferson Jraige, primeiro professor dele, e ao Moacir Mendes, atual sansei.