Viver perto do mar

Por certo a vida é melhor quando se mora ou ao menos se habita um apartamento que tenha sacada com vista para o mar. Por alguns dias, tive essa oportunidade, mas não é exatamente sobre isso que vou tratar agora e sim sobre a relação entre a praia e a noite.

Creio que nossa relação enquanto sociedade com o período noturno ainda precisa ser aprimorada. É preciso viver mais a noite sem ser necessariamente um boêmio, um artista, um plantonista ou, sei lá, um jornalista. Da cidade de onde venho, noite é sinônimo de receio. E como é triste isso.

Triste, mas costumeiro. Daí a importância de conhecer novos horizontes e formas de se viver a própria cidade.

Por isso também a minha admiração às cidades litorâneas e seu jeito com a noite. Pouco mais de dois anos atrás, lembro como achei revolucionárias duas mulheres sentadas numa praça de Florianópolis por volta das 21h. Apenas pelo fato de elas ocuparem aquele espaço naquela hora, como soi acontecer por lá.

Já vi histórias de Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros nomes da bossa nova cruzando Copacabana, Ipanema e Leblon a pé e de madrugada cantarolando melodias que viriam a se tornar sucessos. Uma cidade é isso, é para ser vivida ao longo de suas horas. A proximidade com o mar, talvez, seja um atrativo para tanto.

Na praia de Itaparica, em Vila Velha, onde me hospedei por alguns dias, tive uma sacada de frente para o mar – aliás, obrigado à funcionária do hotel que fez essa reserva. E como é lindo ver a vida na orla depois que o sol se põe. Crianças, pais, atletas, namorados aproveitando a praia mesmo sem a presença do sol. Vivendo.

Basta um poste com luz e aproveita-se o clima ameno dali. E, quando vai um, o outro perde o medo de acompanhar. Assim vai indo. Assim cria-se um costume, um hábito.

Não conheço a história recente de Vila Velha. Ela me parece que passa por um período de recauchutagem, puxada em parte pela especulação imobiliária. Ao olho de quem não a conhecia, apresenta-se com uma orla aparentemente renovada e prédios que por certo deram aquela gentrificação pelo menos às quadras próximas aos mares que banham Itaparica, Itapõa e Costa.

Ao menos as praças dali também estão novas neste abril de 2023. E cheias de crianças, como devem ser, até depois que o sol se põe e a mãe permite. A praia, assim, permanece cheia de vida, dia e noite. Ganha a sociedade. Ganha quem pode morar na praia.

Oi, Espírito Santo

Prazer em conhecer. Antes, preciso admitir que esse destino não foi um Plano A e quase que por acaso foi que parei aqui. Mas aconteceu. E, mais uma vez, um prazer te conhecer.

Poderia até dizer que sua praia de mares esverdeados me foram uma grata surpresa, só que, pensando bem, o que eu poderia esperar de um pedaço de orla entre a Bahia e o Rio de Janeiro? Um cantinho meio discreto entre dois expoentes famosos deste país enorme, diverso e ainda encantador que é o Brasil.

Legal estar aqui, ser recepcionado por uma gente em geral simpática, que parece fazer da mescla de características de seus vizinhos próximos, a sua particularidade. Aliás, o acaso me reservou trombar com alguns que chamam a grande Vitória de casa, mas que, segundo revelaram, vieram de longe e há tanto tempo. Ex-mineiros ou paulistas – dentre tantos, apostaria – que decidiram ser capixabas.

Nesses quatro dias, não reconheci o seu sotaque, Espírito Santo. Ora me lembra um pouco o de Minas, ora me parece tão neutro. Definitivamente não tem certo chiado comum não longe daqui, porém tampouco encontrei uma interjeição que me sirva para cravar: aí está o capixaba! Vejo, sim, bastante gente que torcer para times cariocas andando pela rua. Noto preços e coqueiros baianos/nordestinos na praia. De novo: creio que tem um cadinho da vizinhança por aqui.

Em Vila Velha, o jeito de cidade com um quê de mais organizada que a média, com aquela combinação de aspectos de urbe com areia fofa da praia, talvez explique essa decisão de quem vem de fora querer ficar um pouco mais. Ao menos, essa explicação convence o gaúcho de Porto Alegre que precisa encarar mais de 120 quilômetros para se defrontar com um Nordestão do mar.

Enfim, já andei um pouco por aí e admito a você que estava louco de saudade de descobrir novos horizontes deste mundo que vem deixando a pandemia no passado. Bom começar – e estar – aqui. Prazer em conhecer, Espírito Santo.