Aqui, e tão longe

O poente de Santiago, Chile | abril/2018

Sonhei longe hoje à noite. Estive em Buenos Aires, que ali era era tão simples de chegar, mas também andei pelas ruas centrais de Montevidéu. Deve ser o frio desses dias, deve ser a saudade. No sonho, eu sabia que conhecia muito bem aquelas calles, que sempre me deixam tão à vontade na vida real.

Dias atrás me bateu uma saudade de Lisboa, essa cidade que sinto que preciso conhecer bem melhor. Da mesma forma, ainda quero voltar a caminhar mais por Paris para reparar nos detalhes que mal notei em um agosto passado. E até hoje mal acredito que já estive no Japão.

Já há muito tempo em casa, venho sentido falta de embarcar numa viagem longa. De voltar a sentir aquele clima de aventura de se arriscar em outro idioma, de estudar mapas e, principalmente, de andar por esquinas pelas quais provavelmente jamais voltarei.

O mundo é grande e antigo. Ele espera. Ainda vai haver tempo e época para desbravá-lo. Seja a partir de uma banda aqui pelo pampa, seja por terras e idiomas tão, tão diferentes. O mundo é grande. E isso vai passar.

Rápidas uruguaias, parte 8 – una noche

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Una noche tranquila

Já passava das 21h em um fim de inverno quando engatei a marcha ré. Manobrei e desci do carro segundos depois. Acompanhado por duas mulheres, naturalmente olhei ao redor com certo receio e urgência, costumeiros de quem vive os atuais tempos em Porto Alegre.

E foi só aí que reparei. Havia não mais que vida nas imediações de onde estava, alguma avenida nem tão larga de Punta del Este. Quem estava nas ruas àquela hora eram pessoas dispostas para ou passear ou vender, conforme seus respectivos papéis naquele contexto de cidade turística.

Confesso que os primeiros passos foram receosos e que teimosamente olhei para o lado, desconfiei de certos tipos, mas pouco a pouco ganhamos confiança. Pouco a pouco fomos caminhando como dantes, tanto no Uruguai, quanto no Brasil e em outros lugares. Uma pequena lembrança de uma noturna liberdade de outrora.

No vento frio de Punta reencontrei o ar da segurança de se caminhar à noite de forma tranquila, algo que tanto já fiz por aí e que tanto gosto. Mas algo que minha cidade e seus boletins de ocorrência cada vez me desencorajam mais, numa dura derrota que vem de anos e que pouco ou nada fizemos contra, enquanto sociedade.

Viajar nunca deixa de ser um eterno (re)descobrir-se. E às vezes encontramos certos “eus” que nunca gostaríamos de ter esquecido.

Palmas ao sol

O porto-alegrense tem mania de dizer que seu pôr-do-sol é o mais bonito do Brasil. Ou do mundo – perdoem meu povo, (quase) todo gaúcho tem uma megalomania intrínseca quando fala de suas coisas. Ainda que, de fato, o sol repousando sobre o Guaíba ao fim a tarde é uma visão muito bonita. Recomendo a quem for conhecer a capital do Rio Grande do Sul.

Mas o mundo é grande.

E não precisa nem ir muito longe para o vivente um pouco mais atento perceber: “Opa, talvez o pôr-do-sol de Porto Alegre não seja lá o mais bonito do mundo”. No caso deste texto, uma viagem de 730 quilômetros rumo ao Sul (Ah, o Uruguai…) já faz a pessoa repensar seus conceitos.

Lembro com carinho – e da admiração – de ver o sol se pondo em Punta del Este. Foi até para o Instagram, semanas atrás. E, mais especificamente, ali do lado, em Punta Ballena, onde fica a Casapueblo, ex-atelier de Carlos Paez Villaró, que também é um hotel e, casualmente, foi construído de frente para o mar.

Lá eles levam o pôr-do-sol tão a sério que existe até a “Ceremonia del sol”, diariamente, na Casapueblo. Pagando-se algum punhado de dólares, se vê o astro-rei se despedindo no mar, ouvindo poesia em meio a um lugar realmente espetacular, que é a Casapueblo.

Mas se não houver dólares pela carteira, tampouco há problemas, afinal o sol nasce, e se põe, para todos. O barranco rumo ao mar, ali pertinho, é igualmente ou mais convidativo para se sentar alguns minutos e ver o sol partir. Uma diferença e tanto para o pôr-do-sol em Porto Alegre acontece ao fim: as pessoas, voluntariamente, batem palmas, como em agradecimento.

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18h01 de uma tarde de setembro em Punta Ballena

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18h09 da mesma tarde de setembro

Quiçá não seja à toa que o Uruguai tem um sol em sua bandeira. Porque o pôr-do-sol lá é lindo. Talvez bem mais bonito que o de Porto Alegre.

Aquilo que une Jose Mujica e Jorge Bergoglio

O século XX foi um marco na história da humanidade. Começamos andando a cavalo, quando muito, e terminamos com dois carros na garagem. Iniciamos com o telefone em priscas eras e, em 2000, já conseguíamos nos comunicar com gente do outro lado do mundo de forma instantânea. Entre tantos outros fatos, é claro.

Todas essas evoluções passaram por uma série de etapas, dentre as quais a pior face humana, a da guerra. E da guerra, sangrenta ou fria, saiu o modelo econômico mais consagrado entre nós, homo sapiens, o capitalismo.

Paralelo à discussão se é justo ou injusto e somado à exposição das redes sociais, invento já do século XXI e pelo qual todos somos obrigados a sermos felizes, em algum momento dos últimos anos aprendemos a apreciar o caro, a ostentação. Subjetivamente aceitamos que para se alcançar sucesso e felicidade é necessário o acúmulo de bens.

Mas duas personalidades latino-americanas nascidas logo nesta época destacaram-se em nível mundial recentemente, praticando justo o contrário. E o fato de terem nascido às margens do Rio da Prata que José Mujica e Jorge Bergoglio não passa de mera coincidência.

Em um mundo tão enfeitado a ouro, eles cultuam a simplicidade. Característica tão comum ainda hoje – ainda que invisível aos olhos de endinheirados – e presente na história humana, que vem bem de antes do século XX.

Taxado como presidente “mais pobre” do mundo quando esteve à frente do Uruguai, Mujica refutou o rótulo. Não se trata do culto à pobreza, mas sim da contestação ao poder do dinheiro, em que ele fala tão bem, acaba por roubar a liberdade. É uma mensagem simples, mas que tornou-se complicada de entender.

Figura pouco mais recente no cenário mundial, Bergoglio optou pelo pelo exemplo. Desafeiçoou seu alto cargo do ouro, dispensou privilégios. De privilegiado, tornou-se um comum. Aproximou uma instituição em crise das pessoas, graças a sinceridade de seu exemplo.

Exemplo este que vem desde o início. Ainda em 2013 espantaram-se pela escolha do nome Francisco, homenagem ao santo que abriu mão da riqueza, optando pela simplicidade. Houve pelo menos 265 papas antes que puderam ter escolhido este nome – 85 desde a canonização de São Francisco. Nenhum o fez, em dois milênios da igreja que começou com um menino que nasceu no presépio.

Em um mundo movido pela força de interesses econômicos, é bom ver líderes pararem para ouvi-los. E aplaudirem por eles falarem nada mais que o óbvio. Um discurso extremamente simples, mas que, ao longo da vida, acaba sendo esquecido pela pressa de trabalhar, de conquistar algo para chamar de seu.

Nessas duas figuras latino-americanas não é a pobreza – ainda que se insista em olhá-los assim – que chama a atenção, é sim a simplicidade. Por terem acesso ao luxo, dispensarem e serem felizes desta forma.

Mostram que ser simples é um dom que desaprendemos ao longo da vida. Mas que é genuinamente humano, e que dinheiro algum pode comprar.

O dia que vi José Mujica de perto

Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini

Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini

Estava de folga e a quarta-feira era chuvosa. Mas fiz questão de seguir alguns dos passos de José Alberto Mujica Cordano, presidente da República Oriental do Uruguai, em Porto Alegre. Graças ao jornalismo, o famoso “presidente mais pobre do mundo”, cuja figura já beira o estado mítico para muitos, esteve por cerca de uma hora a poucos metros de mim, no Palácio Piratini.

Com uma história incrível de luta e resistência no passado, Pepe Mujica lidera grandes revoluções neste enorme pequeno país no Sul da América do Sul. Nos últimos cinco anos, tocou em assuntos polêmicos, mudou rotinas e surpreendeu não apenas seu país ao mesmo tempo que mantém uma vida pessoal pacata no periférico bairro Cerro, em Montevidéu.

Por trás de seus óculos escuros no Piratini, Mujica, ao que pareceu, não é chegado aos badulaques do poder. Manteve uma franqueza sábia ao longo de sua fala, dita de improviso, sem discurso pronto. Impressionou pelo conteúdo e pela simplicidade. Por certo não tem razão em tudo o que diz. Mas sua rota proposta, sem dúvida, parece indicar para um mundo melhor. Não à toa foi aplaudido de pé.

Abaixo, um compilado de frases de Mujica em Porto Alegre:

“As causas novas não são outras coisas que um vinho elaborado. A dor e a injustiça humana são velhas como o vento. Temos mais celulares, tiramos mais fotos, mas ainda temos injustiça, dores, diferenças por classes, imposições militares. (…) Então as causas novas têm um alento de outras causas.”

“É preciso criar uma civilização comum na América Latina, que tem como o coração a Amazônia. Mas não juntar-se como o sonho de Bolívar, não. Temos que nos juntar porque juntos somos grandes, é um caráter estratégico. Temos que nos juntar para sabermos nos defender.”

“Temos que cumprir com a gigantesca dívida social que ainda temos. Eles vivem porque nasceram, mas não têm causa para viver. Quando damos uma causa, damos sentido. É preciso ter vontade de viver. Mas viver para servir. (…) A de se viver porque a vida é linda, apesar de tudo.”

“O homem é um primata que necessita acreditar em algo. Se tu estudares todos os povos antigos, verás que eles têm algo em comum: todos acreditam em algo. Uma religião, uma caverna, uma magia, não importa.”

“A civilização que a gente vive coloca o dinheiro e a riqueza na escala mais alta do trunfo humano.”

“Aos que gostam muito do dinheiro, a política deveria os correr. Não que na política não haja interesses. Há interesses, mas não são de dinheiro: são de carinho das pessoas, de entendimento das pessoas. Quando essas coisas se juntam, muda de verdade e a confiança na política.”

“A culpa não é dos políticos e sim dos valores da nossa sociedade, onde quem tem muito dinheiro é quem triunfou. Isto é falso. Não há de se odiar quem tem dinheiro, mas há de se odiar o que se vende.”

“Querido amigo jornalista, eu sou um velho lutador social metido a governante. Não encaixo com o modelo tradicional de presidente. Não tenho culpa. Sou um homem republicano, vivo como vive a maioria do meu povo e não como vive a minoria do meu povo. E tratarei de ser fiel a esta regra por convencimento. Não julgo a ninguém. Tenho amigos de todas as classes sociais. Mas assim como não uso gravata, minha vida tem um rumo. Não altero.”

Gasto pouco, vivo com pouco, porque quero ser livre não para cuidar das coisas que tenho e sim para fazer as coisas que eu gosto. Meu sentido de liberdade. Mas reconheço que sou um raro e não vou convencer a ninguém.”

Viagem no jornal

Carros, Motos & Viagem

Carros, Motos & Viagem

Paramos nossa programação normal para um momento assessoria de imprensa (própria): Depois de ganhar alguns vários posts por aqui, a viagem de março foi parar no jornal. E com direito a uma página inteira.

Uma crônica/resumo daqueles 2,5 mil quilôemtros ao longo de sete dias entre Brasil, Argentina e Uruguai foi publicada no caderno Carros & Motos do Correio do Povo desta quinta-feira, 20 de junho.

Como dá para perceber, a página é essa anexada aqui ao lado, que, se clicada, aumenta de tamanho. Mas com um cadastro gratuito, pode-se ler tudo no site mesmo. Por R$ 1,50 você lê a matéria e ainda ganha um jornal de brinde :P.

Uptade: o PDF da página

Diários de Motocicleta: os 700 quilômetros de Punta del Este a Porto Alegre

Partida em frente a La Mano, em Punta

Partida em frente a La Mano, em Punta

Partindo para as duas últimas etapas da viagem, deixamos Punta del Este por volta das 10h. Antes de pegarmos a estada voltamos a Punta Ballena para explorar com mais calma a vista dali e conhecer o atelier de Vilaró.

Além das fotos, claro que deu vontade de levar algum presente para casa. Opções, como telas, livros etc, não faltam, mas quando um chaveiro começa custando 20 dólares as coisas complicam. Os suvenires ficaram na lembrança mesmo.

Para deixar o balneário utilizamos uma rota secundária, a 12, que passa ao lado da Laguna Del Sauce. A quem está de passeio e sem problema algum com (falta de) gasolina, o caminho de 14 quilômetros é bacana. Há, por ali, algumas fazendas e hotéis bucólicos.

Os sóis que Vilaró faz

Os sóis que Vilaró faz

O caminho quase rural leva até a Ruta 9, rodovia que entre Chuí e Montevidéu. Lá, pegamos o rumo norte, ao Brasil. Pelo caminho, ficaram as convidativas entradas para Rocha/La Paloma, Castillo/Cabo Polonio, Punta del Diablo e o Forte de Santa Tereza – os dois últimos destinos mais frequentados pelos gaúchos.

Duas horas e pico depois da largada chegamos ao Chuí. Apesar das centenas de quilômetros de Rivera, por onde passamos na ida, o cenário é idêntico: forasteiros numa terra meio que sem lei à procura de ofertas em free shops, enquanto locais, em sua maioria com cara de mal encarados/picaretas cruzam o caminho.

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Parada em Punta Ballena para ver a paisagem

Após um almoço que foi um verdadeiro assalto – R$ 86 dois pratos com arroz, bife (que mentiram que era filé) e batata frita – partimos, mas não sem antes encher o tanque para não dar zebra ao longo dos despovoados quilômetros da BR 471 até Rio Grande.

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As capivaras do Taim

Pela rodovia, se passa pela Reserva Ecológica do Taim, onde o limite de velocidade é 60 km/h – ainda que uns apressadinhos ignorem isso. Por lá, e até sem muita sorte, sempre se vê umas capivaras. Para as crianças é legal.

O dia de viagem terminou num fim de tarde em Pelotas, cerca de 250 quilômetros dali e após outras duas horas e pouco de estrada. Em meio a uma cidade congestionada, consultamos três hotéis na região central. O mais barato tinha a diária de R$ 150. Complica para quem pensa em passar só 12 horas. Dormimos em um hotel na estrada mesmo.

Fim de linha em Porto Alegre

Fim de linha em Porto Alegre

Dali, saímos bem cedo para rodar os meus últimos 280 quilômetros – o pai ainda seguiu mais 450 até Floripa. Em obras, a BR 116 parece que vai ficar bonita quando a duplicação terminar – por ora ainda exige um pouco de atenção. Já a chegada a Porto Alegre é em via duplicada, e assim vai norte afora.

Rápidas:
Ao longo da Ruta 9, paramos duas ou três vezes. E nos postos Ancap – a maior rede de lá – havia internet wifi. Algo um tanto impensável em muitos estabelecimentos do outro lado da fronteira.
Saímos do Uruguai em 11 de março. Coincidência ou não foi o último dia de validade do meu passaporte. Achei uma bonita homenagem a esse companheiro que já foi a cinco países comigo.
Ao todo foram sete noites, três países, inúmeras cidades em dezenas de paradas, cerca de 2,4 mil quilômetros rodados, centenas de fotos – muitas delas no Instagram meu e do pai – e boas

Diários de Motocicleta: os 340 quilômetros de Colonia a Punta

A fila para o Buquebus

A fila para o Buquebus

Voltemos, enfim, à estrada. Para sair de Buenos Aires em direção a Porto Alegre tomamos um atalho, via Rio da Prata: o Buquebus, que em uma hora nos transportou da capital argentina até Colonia de Sacramento, a sudoeste do Uruguai, al otro lado del río.

Se na ida fomos pelo continente, a volta foi pela costa uruguaia. De barco, desembolsamos uns 400 pesos para levar as motos e uma hora até Colonia – há ainda uma opção mais barata, mas a viagem leva três horas. Existem também opções mais caras, vips e ultravips com a mesma duração. Outra rota liga diretamente Buenos Aires a Montevidéu, em três horas.

A quem não conhece, Colonia é uma cidadezinha turística ótima para casais. Mas é pequena e um dia já é mais que bom para conhecê-la. Como já estivemos por lá, apenas almoçamos e seguimos viagem, partindo por volta das 14h.

As entranhas do Buquebus

As entranhas do Buquebus

A primeira meta era chegar a Montevidéu, a cerca de 170 quilômetros dali, via Ruta 1, uma estrada que começa cercada de palmeiras, numa vista bem bonita. Mesmo em faixa-dupla em quase toda sua extensão, é uma boa estrada, sem lá muitos atrativos – um deles poderia ser a fábrica da Lifan (!).

Na chegada à capital se passa muito próximo a entrada do Cerro, bairro modesto/histórico/periférico de Montevidéu, que ganhou fama mais recentemente por ser a moradia do pop ex-guerrilheiro tucomano José Mujica, el presidente más pobre del mundo. Já estivemos por lá em 2010 para conhecer o clube local e fizemos matérias pro CP.

A convidativa Ruta 1

A convidativa Ruta 1

Infelizmente, a estadia em Montevidéu desta vez foi curta e não deu para sentar nas encostas das praias para matear no tradicional programa de domingo local, o que me faz concordar quando dizem que as semelhanças entre uruguaios e gaúchos é, de fato, enorme. Qual gaúcho que não gosta de lagartear num frio domingo ensolarado, afinal?

Na mesma tarde, ainda rodamos os quase 20 quilômetros da orla de Montevidéu e pegamos a Ruta Interbalnearia, rumo a Punta del Este, a uns 140 quilômetros dali. A estrada é boa e, em considerável parte, duplicada. Só exige a atenção o inusitado fato de ter sinaleiras, nas cercanias de Montevidéu.

Pouquinho antes do destino do dia chegamos a Punta Ballena, um pequeno balneário rica$$o e interessante. É lá que fica a Casapueblo, o hotel/atelier/museu de Carlos Paez Vilaró, que é um show de arquitetura. Lá, também, que tem o pôr do sol mais bonito da banda oriental, com o mar compondo a paisagem. Só a diária por lá, nos seus US$ 174, que quebra um pouco o encanto.

Casapueblo

Casapueblo

Logo em seguida, chegando já à noitinha em Punta del Este, ainda encontramos aberto um posto turístico muito bem estruturado. Ali, eles dispõem de mapas da cidade e nos indicaram hostels. Ficamos no The Trip, a cerca de um quilômetro do cassino Conrad e com uma diária camarada de US$ 15.

Rápidas
Se um dia você estiver caminhando na 18 de Julio em Montevidéu, passe no La Pasiva e peça uma torta de alfajor. Vale (muito) a pena.
A rota interbalneária do Uruguai é muito bem estruturada, com diversas placas indicando praias e cidades. É um belo passeio rodar por ali, especialmente no fim da tarde.

Quer carona?

É aconselhável não se fazer isso, dirigir a moto com uma mão só pra segurar uma câmera com a outra, mas quem passa a vida inteira sem transgredir nenhuma regra? Eu não. Aí, para tentar passar ao máximo a sensação de se andar/viajar de moto a quem nunca foi, gravei dois trechos, oferecidos aí abaixo em ordem cronológica.

Primeiro, atravessamos a Puente Internacional General Artigas, que liga Paysandu, no Uruguai, a Colón, na Argentina – trecho que a gente falou aí embaixo. Após o pedágio, cruzamos o Rio Uruguay em pouco mais de dois minutos.

Olha aí:

Agora, a gente chega a Punta Ballena, na costa uruguaia. É lá que fica a Casapueblo, casa/hotel/museu/ateliêr do Carlos Paez Vilaró – local que a terá o seu devido post logo mais. De antemão, já recomendo: vale passar lá, especialmente ao fim da tarde. O pôr do sol compete bravamente com o de Porto Alegre pelo posto de mais belo do mundo. Pena que o vídeo não é nesta hora, mas dá pra ter uma ideia do quão legal é:

Diários de Motocicleta: Os 487 quilômetros de Tacuarembó a Nogoyá

Manhã ensolarada para se viajar

Manhã ensolarada para se viajar

Numa quarta-feira ensolarada, Tacuarembó ficou para trás. Não sem antes passearmos pela cidade sentindo o onipresente cheiro das parrilladas preparadas para La Fiesta de la Patria Gaucha. Nesta volta matutina pela cidade, descobrimos que os tacuaremboenses são muito fãs de motos. Há, em determinadas partes do Centro, espaços iguais para estacionamentos de carros e motos. Ainda que a velocidade de tráfego da cidade não seja lá muito grande, o capacete mostrou-se um acessório opcional.

A quem passar por lá rumo à Argentina #ficaadica: trocar dólar por peso argentino lá também é um negócio muito vantajoso: 1 Obama = 8,5 Cristinas.

No fim dessa manhã, após em abastecer num imperialista posto da Petrobras, Tacuarembó ficou no retrovisor. No horizonte, a Ruta 26, uma deserta e um tanto perigosa estrada. A vista é sempre a mesma: retão, verde pra um lado, verde pro outro, boi. Apesar de em boa parte a rodovia ter boas condições – suficientes a se andar a 120 km/h – o perigo ataca de três lados: o sono provindo do tédio; a falta de postos de gasolina em um trecho de quase 200 quilômetros; e as obras em algumas partes, que chegam a transformar a Ruta 26 num chão batido medonho.

La ruta y sus atractivos

La ruta y sus atractivos

Ao fim da ruta, burocracia

Ao fim da ruta, burocracia

Passados quase 230 quilômetros, chega-se a Paysandu, na fronteira com a Argentina. Antes da entrada da cidade, desviamos rumo à ponte internacional, onde há aduana, burocracia, pedágio e um free shop para consumistas. Somente na fila de lá, levamos uma meia-hora para vencer todos os trâmites e sermos liberados para cruzamos a ponte sobre o Rio Uruguai e chegarmos enfim à Argentina, em Colón. O objetivo do dia era ir até Rosário, a uns 300 quilômetros dali no rumo Oeste.

Depois de rodar um pequeno trecho na boa e duplicada Ruta 14, entramos na Ruta 39 e aí, numa pequena confusão por falta de estudo do mapas e da ausência de placas ao fim da Ruta 39, rodamos 60 quilômetros em vão. Com a perda de tempo e o fim da tarde, o jeito, então, foi dormir em Nogoyá, uma cidade com seus 22 mil habitantes, a cento e picos quilômetros de Rosário.

Rápidas
Ainda que tenhamos gastado 35 pesos uruguaios – uns R$ 3,50 – no pedágio da ponte internacional, os uruguaios, via de regra, liberam as motos dos pedágios. Em todas as outras praças, fomos orientados a passar pelo lado, sem pagar.
Muitos uruguaios atravessam a fronteira Paysandu/Colón para abastecer. O primeiro posto do lado argentino estava repleto… de carros do Uruguai. Mas esse intercâmbio só vale para gasolina. Uma placa na aduana avisa que é proibido ir para o outro lado e trazer produtos do supermercado, por exemplo.
O Google Maps NÃO SABE que há uma ponte em Paysandu. Se tu fores procurar o caminho deste post por lá, ele vai sugerir ir até Salto, ao Norte do Uruguai, e aumentar a viagem em mais de 100 quilômetros.