Marine Le Pen, esta Copa do Mundo é pra você. Pra você e para todos os franceses. Comemore Le Pen, festeje com todos os seus compatriotas – incluindo aqui aqueles cujos antepassados chegaram da África, assim como todos aqueles que optaram por seguir Alá e não Jeová ou por não seguir ninguém. A Copa do Mundo é de todos vocês, sem exceção.
Queria ter visto meu Brasil, do mulato Neymar, do negro William e do goleiro com ascendência alemã, Alisson, ficar com a taça. Mas dessa vez não deu. Ao que parece, a França do futebol – tal qual o Brasil fizera décadas atrás – percebeu as benesses da miscigenação dentro de campo. A cancha coloca a todos na horizontal. Pouco importa nome de família ou ascendência. Cor, preferências, religião são assuntos da porta do vestiário para fora.
Talvez por não ter um estereótipo perfeito ou uma fórmula mágica predominante, o futebol seja tão apaixonante. E é assim porque é democrático. O mais democrático dos esportes, certamente, o qual todos que entram em campo sabem que podem ganhar, seja com mais ou menos dificuldades. Não importa se tenham vindo da Coreia do Sul ou dos rincões da África, das quentes cidades panamenhas ou das frias islandesas. A chance existe. Sempre.
Agora, ser campeão mundial é mais complicado, reconheçamos. E aí, se for reparar, uma misturinha sempre cai bem. Do cara mais sério com o mais descontraído, do crente com o baladeiro, do que veio de longe e daquele que sempre esteve aqui. Não existe fórmula mágica, mas um time campeão normalmente conta com esses elementos. Juntos. O futebol campeão dá as boas vindas à mistura. Até porque já tentaram provar que uma raça seria superior a outra e não deu certo. Convenhamos.
Festeje, Le Pen. Comemore sem preconceito algum ao lado dos franceses de todas as querências. A seleção de vocês fez por merecer. Allez les bleus!
ps: faço a minha mea-culpa também. Admito que no início da Copa eu olhava a França mais como uma seleção importada do que uma equipe nacional. Burrice. Ainda bem que a internet está aí também para nos fornecer conhecimento e não apenas nos manter dentro de bolhas polêmicas. Faço também questão de compartilhar este tuíte, do jornalista Andrei Netto, que mora há anos na França: