Aguardava o sinal. Não sabia exatamente da onde, nem como ele viria. Mas viria. Sabia porque estava certo que um líder internacional desses de nome complicado recebera as mensagens, as denúncias. Todo o material de procedência inquestionável chegou até ele através de uma ousada missão, em que os enviados foram camuflados de torcedores numa Copa do Mundo e entregaram tudo em um pen-drive.
Agora, era tudo questão de tempo, coisa de 72 horas, talvez. Aguardava. Forças estrangeiras, indignadas com o que aconteceu no Brasil, restabeleceriam a ordem e a dignidade, quiçá até os bons costumes. Seriam equipes mandadas pelos líderes internacionais, esses de alta patente e de sobrenome cheio de consoantes. Esses que lutam contra o globalismo e que ficaram alarmados como o viram. Esses que jamais permitiram que a bandeira do Brasil se tornasse vermelha.
Tratava-se de uma missão arriscada, todos sabiam. Escapando ao sistema, toda a comunicação nas últimas semanas foi feita subliminarmente, à exceção do explícito pedido de SOS feito aos céus por patriotas mais ao sul. Ao longo das últimas semanas, o grupo precisou contar até copos de plástico e de vidro para interpretar o que o capitão enclausurado queria dizer. O vestuário, o cenário, tudo precisava ser levado em conta para se compreender o que realmente importava para os verdadeiros patriotas.
Não que o expediente fosse exatamente novidade, porque bons entendedores precisam de pouco para entender e se reconhecer. E o líder tem uma expertise nisso. Beber um copo de leite às vezes significa muito mais que apenas beber um copo de leite. Eles sabem.
Ó! Ouvem-se gritos! Barulho de multidões extasiadas. É agora, agora!! Ao que o patriota abre o olho e percebe a movimentação, transmitida por uma tela de celular: naquele exato momento, lá estava o inimigo mortal do grupo. Aquele ser, entre um militar dos nossos de espada em punho e uma tropa de prontidão.
Deu-se conta então que talvez perdera o momento do julgamento. Até não admitia em público, mas seu âmago vibrava com a sentença e o desfecho tão próximo. A ode ao ódio, uma festa.
E ele começou a caminhar. Estranhou que os soldados de arma em punho apenas olharam-no. Aquele ser seguiu mais uns passos… e nada. Estranhou que o nosso militar de espada o permitiu caminhar tanto para entrar em um carro. Bom, no mínimo aquele ser devia estar sendo preso, condenado enfim por sua ladroagem interminável contra a nação.
Só que algo estava estranho. Tirou os olhos da tela para ver ao redor. Ao seu lado, colegas patriotas não pareciam estar satisfeitos. O semblante dos demais soldados da pátria no acampamento era pura desilusão. Sem ainda entender muito bem o que se passava, voltou sua atenção novamente à tela. E aí não pôde acreditar no que viu: era ele, aquele homem, subindo aquela rampa.
Só então deu-se conta que tudo o que acreditou, defendeu e sonhou não passava de um mero delírio em pleno verão na capital federal – essa, veja só, ironicamente em festa pela democracia.