
Em uma noite como essa, 14 anos atrás, fui diplomado jornalista profissional. Era um sonho realizado, concluindo a expectativa da entrada na universidade e posteriormente os anos de faculdade. Eu achei que estava pronto. Cinco anos mais tarde, revisitei aquele 9 de janeiro em outro texto, um dos que considero icônicos deste blog, e concluí: estava era bêbado de felicidade.
Não que seja uma especificidade do jornalismo, mas a vida se mostrou bem mais complicada no momento pós-academia do que quando se era estudante. A questão, porém, é que o Brasil mudou, e mudou rápido. A estabilidade civil e democrática que vigorou até a década passada talvez nos tenha deixado mais acomodado. O conta veio a partir de 2013.
Em paralelo, se acelerou uma nova dinâmica tecnológica e de comunicação. Terminei meus estudos em jornalismo num momento imediatamente anterior ao boom das redes sociais. O Tiago que saiu da faculdade mal tinha ouvido falar em Twitter e sequer imaginaria que aquela rede social contribuiria para um movimento como a Primavera Árabe de dois anos depois. Ao mesmo tempo, ele apostaria que tablet poderia ser um excelente modelo para a salvação dos negócios do jornalismo.
Influenciador? Esse termo só entrou no vocabulário da forma atualmente conhecida tempos depois. Eram tempos mais ingênuos e com o webjornalismo sendo o primo pobre e feio da imprensa, coisa para nerds ou recém-formados.
Felizmente, acho que aprendi um pouco ao longo deste período e datas como essas sempre servem para se fazer um balanço. Hoje, ao contrário de muitos colegas, posso dizer que trabalho num jornal, o qual tive a honra de ser um dos fundadores, em que realmente acredito. Que abre cada edição com a disposição de se fazer uma sociedade melhor. Isso é reconfortante.
Ainda assim, o jornalismo e o jornalista seguem em xeque. Semanas atrás escrevi um artigo em que provoquei “quem que dizia a verdade”, ainda no contexto das eleições de 2022. Creio que profissionais da minha área, de décadas atrás, não teriam tantas dúvidas para responder como eu tenho agora.
No texto, tangenciei a ideia e o termo, mas, em tempos como esses, aquela dúvida segue me martelando. “O que é a verdade?” Hoje, eu tenho 14 anos de jornalismo profissional, muitos erros e acertos nas costas, e já alguma experiência. E eu só trago versões do que, certa feita, foi a verdade. Versões e contexto.
Isso diante de um público cada vez mais convicto no que quer acreditar. Um público acostumado, para mal e para bem, à pós-verdade. Como noticiar para ele? Jornalistas e credibilidade não rimam, sequer combinam, para parte considerável da população.
Há, pela frente, enormes desafios pela frente para os jornalistas que se propõem a fazer um trabalho sério. Se tenho diversas críticas à formação que tive, guardo alguns mantras e aprendizados como tesouro. Um deles, do Mestre Leonam, frisa: “Repórter não pode ingênuo”.
Tenhamos olhos abertos, ouvidos atentos e sigamos.