Quer pagar quanto?

tuite

Dias atrás lancei uma pergunta despretensiosa no Twitter a fim de descobrir quanto que meus seguidores estavam dispostos a pagar pela assinatura digital de um veículo jornalístico. Esclareci que não se tratava de uma pesquisa científica ou coisa assim, até porque faltam aí diversas variáveis. O mote da questão remetia ao velho bordão das Casas Bahia: “Quer pagar quanto?”

Houve três faixas de preço: até R$ 9,90, até R$ 19,90 e até R$ 29,90. Em três dias 27 votaram, garantindo uma vitória acachapante da primeira e mais barata opção (78%). Outros 19% admitiriam desembolsar até R$ 19,90 para se informar. O restante, 3%, deu uma de mão aberta no levantamento e se dispôs a bancar R$ 29,90 – praticamente R$ 1 por dia – por um jornal online.

Apesar da vitória, ficou um palpite sensível: a opção de pagar até R$ 9,90 só saiu vencedora porque a pesquisa não ofereceu a alternativa: “Nada”.

A falta de disposição em não pagar pelo conteúdo jornalístico decorre de uma clara sensação de que as notícias – matéria-prima do jornalismo – hoje estão facilmente ao nosso alcance. E são, via de regra, gratuitas, através das redes sociais, por exemplo, onde manchetes dos links postados, seja por veículos ou por pessoas, já de certa maneira informam.

Conste-se também a imensa gama de canais por onde se informar – fenômeno esse projetado já no início do século, ou seja nos anos iniciais da internet comercial, quando dos primeiros passos da chamada web 2.0, que quebraria o modelo até então consolidado da comunicação emissor-mensagem-receptor.

E o modelo quebrou, de fato. Receptores tornaram-se emissores e multiplicadores de conteúdos. Em questão de pouco tempo, diversos canais alternativos e informativos surgiram na concorrência a veículos de comunicação já consolidados, alguns havia décadas. Nem todos necessariamente jornalísticos, mas sim uma espécie de simulacro, o qual já satisfaz a boa parte do público leigo e/ou ansioso por apenas uma determinada informação.

Importante frisar que paralelo a esta quebra, consolidaram-se nas redes sociais a distribuição de conteúdo. E de forma linear foram colocados um clique gratuito e um clique pago, por meio de paywall, ao mesmo tempo em que mudavam drasticamente o mercado publicitário, tomando para si uma verba que sustentava redações.

Ano após ano, portanto, o leitor (ou antigo receptor) desacostumou-se a ir atrás da notícia, pois neste vaivém ela de alguma forma acabava aparecendo. E até não muito tempo atrás, sempre de graça. Então, por que pagar? E, se pagar, quanto?

Determinar quanto custa o trabalho jornalístico é algo subjetivo, porque mudam, de texto para texto, a quantidade de tempo empregado, gastos com transporte, telefone, internet, entre outras variáveis, como um bom servidor, necessários para a produção e propagação do conteúdo. Lado a lado poderão estar publicações prontas em minutos e reportagens feitas ao longo de semanas. Contudo faz-se necessário, e já com urgência, entender a mudança de cenário, agora, com internet – e o mobile – à frente do tradicional impresso.

A mesma aposta para um produto nem sempre agradável

Pesa ao jornalismo, principalmente ao diário de hard news, ainda ter que “vender” notícias nem sempre agradáveis ao leitor, ao invés de fatos ou conveniências que lhe proporcionem algum tipo prazer, semelhante à sensação quando se compra algo que gosta ou se procura. Em outras palavras, vender jornalismo pode significar ter que buscar receitas com um produto que nem todo mundo gostaria de comprar.

um break bem-vindo porque o texto é grande e foi impossível não lembrar deste filme:

ok, retomando

Em uma linha geral, a rentabilização na internet passa por conhecer os dados do consumidor e saber como tomar pouco de dinheiro de cada um. Receita que, apesar de trabalhosa, se parece mais segura que o contrário, receber muito de poucos – base da publicidade que passou décadas aportando o jornalismo.

Os veículos mais antigos necessitam reconhecer que, apesar de tanto tempo de história, há todo um trabalho que precisa ser reiniciado quase que do zero, situação que coloca novos portais ao lado de nomes consagrados. Disputam o clique de um mesmo leitor. E ele, se estiver disposto, irá querer pagar pouco e ter retorno.

Pouco, neste caso, pode ser sinônimo de estabilidade. E isso é o contrário do que os jornais tradicionais brasileiros parecem apostar. Pouco não significa promoção. A pergunta que motivou o tuíte citado foi originada a partir da busca por assinaturas em jornais consagrados no Brasil.

Três dos maiores e mais acessados veículos jornalísticos do país usam de promoções na esperança de atrair assinantes. Em São Paulo, Folha e Estadão cobram apenas R$ 1,90 no primeiro mês para depois multiplicar o valor: a Folha para R$ 29,90 e o Estadão, R$ 21,90. O Globo, do Rio, busca uma medida mais equilibrada e paulatina: R$ 9,90 nos seis primeiros meses e dobra para R$ 19,90 a partir do sétimo.

No Rio Grande do Sul, o cenário não é diferente. GaúchaZH tem a mais arrojada promoção, cobrando R$ 4,90 no primeiro ano de assinatura, só que, a partir de então, o preço quase quadruplica e salta para R$ 18,90. Principal concorrente em Porto Alegre, o Correio do Povo oferece a assinatura por R$ 14,90 nos primeiros seis meses, com o preço praticamente dobrando, indo para R$ 29,90, do sétimo mês em diante.

Também da Capital, o Jornal do Comércio tem um modelo de negócio semelhante à assinatura do impresso, com planos mensal, trimestral, semestral e anual, com desconto progressivo. Enquanto assinar por um mês custa R$ 24,90, o preço do anual torna o gasto por mês a R$ 20,80 – mediante o pagamento único de R$ 249,60. Para efeitos de comparação no âmbito regional, o Diário Popular, de Pelotas – uma das maiores cidades do interior gaúcho – tem praticamente todo o seu conteúdo restrito apenas para os assinantes. A assinatura, sem promoções, custa R$ 9,90 por mês.

Veículos nascidos na internet já adotam uma política de preço levemente mais baixa, ainda que sua cobertura seja em nível nacional. O Jota, especializado em conteúdo jurídico, cobra R$ 19,90 por mês dos assinantes, oferecendo aí outros tipos de seções, como newsletters especializadas. O Nexo pede R$ 12. Ambos dão dois meses de graça na compra do plano anual.

Se não uma luz, um exemplo

Uma breve olhada para o cenário internacional deve esmiuçar o trabalho desenvolvido pelo The New York Times, que desde o ano passado já superou o número de 2,6 milhões de assinantes exclusivamente digitais. Em 2018, o NYT alcançou a casa do bilhão de dólares de receita com assinantes – contando aqui também os assinantes do impresso, ainda responsáveis por boa parte do bolo, frise-se.

O esforço recente resultou numa virada sadia, ocorrida nesta década: hoje o The New York Times fatura mais com assinaturas do que com publicidade. O preço de uma assinatura digital básica não tem promoção, mas tampouco varia: US$ 6. Na conversão de julho de 2018, é mais barato que quatro dos sete jornais brasileiros supracitados.

Compreender o fenômeno do New York Times e considerar suas variáveis com o mercado brasileiro – que são muitas – talvez seja entender o norte para o caminho da rentabilidade dos veículos jornalísticos online. A partir daí direcionar os esforços tanto na produção do conteúdo a ser oferecido quanto onde e como buscar potenciais novos leitores dispostos a pagar para se informar.

Não existe fórmula mágica, existe sim um mercado novo a ser pensado pelos publishers. E como toda novidade é necessário conquistar o novo leitor, tanto com preço, como com conteúdo. Não adianta comparar assinaturas de jornais a modelos de streaming como Netflix e Spotify ignorando os tópicos preço e qualidade do produto entregue. Só a partir daí acontece a fidelização e, consequentemente, a rentabilização.

Promoções, claro, são parte importante de estratégias de marketing e seu poder não deve ser desprezado. No entanto, diante de fatores como principalmente a instabilidade econômica atual e o alto índice de desemprego nacional, oferecer um preço fixo mensal pode ser mais atrativo do que fazer o valor ao qual o leitor se acostuma a pagar dobrar em questão de tempo.

Numa situação em que a consagrada teoria de McLuhan virou algo do passado, o jornalismo precisa se enxergar como receptor para reaprender a se capitalizar como emissor.

 

*Artigo também publicado no Observatório da Imprensa

O último pênalti

Foto: Palmeiras

Foto: Palmeiras

Início de século. E o título estava ali, a apenas uma cobrança de pênalti naquela decisão de torneio colegial. Três dos cinco jogadores do meu time já haviam cobrado. Restava eu e outro colega, apenas. E já tinha percebido: era só colocar a bola em qualquer canto que o gol seria quase certo.

Mas tremi. Titubeei e disse para o outro colega cobrar. Talvez como castigo, de nada adiantou eu soprar para ele chutar em um dos lados da goleira. O chute forte, mas no centro da meta, parou nas mãos do goleiro. O outro time, em seguida, virou a disputa. Foram campeões. E nós, vice.

São para os fortes, as últimas cobranças. Não tive coragem de cobrar meu amigo depois daquele erro, porque eu fiz pior: não tive coragem de assumir a responsabilidade e bater o pênalti. Deixei o preconceito do “goleiro cobra mal” falar mais forte. Resignei-me a ser mero torcedor em campo.

Lembrei desta cena ontem ao ver o goleiro Fernando Prass na decisão da Copa do Brasil. Ele, encarregado de cobrar o último pênalti. E isso num clássico, numa final. Ele sendo goleiro e que tinha defendido cobrança antes.

Neste momento vilania e heroísmo – essa dualidade íntima de quem vive sob o travessão – nunca estiveram tão próximos do arqueiro palmeirense. Havia de se ter coragem. E não faltou: com um verdadeiro tiro de meta, quase rasgou a rede adversária e correu para o abraço. Campeão e ainda mais herói.

Como num resumo da vida, o futebol nos dá a oportunidade de sermos fortes. E, se falhamos, mais cedo ou mais tarde chega a chance de se redimir. A minha veio quase dez anos depois daquele vice no colégio:

O ano, então, era 2009. E o título estava ali, a apenas uma cobrança de pênalti naquela decisão de torneio interno da empresa, no caso o Jornal do Comércio. Quatro dos cinco jogadores do meu time já haviam cobrado. Restava eu – e apenas eu.

O goleiro rival era alto, quase do tamanho da goleira e não tinha deixado transparecer macete algum para a cobrança, mantendo-se imprevisível a cada novo chute. Ajeitei a bola e, confesso, a perna tremeu. Mas desta vez o Luiz estava no meu time. E antes de partir para a cobrança ele ressaltou a glória etílica que nos esperava logo ali, depois daquele chute.

Foi a cobrança mais convicta que fiz na minha vida. No canto direito, onde a bola deveria ter entrado anos antes. Gol, que num mesmo momento me livrou de um peso e nos garantiu a taça. E provou que o futebol, esta cachaça, é uma metáfora perfeita para a vida.

Meus cinco anos como jornalista. Ou momento confessional nº 12

Porque nem sempre é fácil conseguir (ouvir) uma boa entrevista

Porque nem sempre é fácil conseguir (ouvir) uma boa entrevista

Cinco anos atrás eu estava embriagado. Foi um fim de semana inteiro assim, por diversos pontos de Porto Alegre e até em cidade próxima. O motivo, a meu ver, era nobríssimo: tinha, enfim, virado um recém-formado jornalista. Achava que estava pronto para encarar os desafios que havia estudado nos quatro anos anos anteriores.

Meses depois, já no meu segundo emprego como repórter, no Correio do Povo, meu primeiro editor, Fernando Antunes, falou algo como: “Só deixamos de ser ‘foca’ com cinco anos de profissão”. Relativo ao mesmo período, o Duda Rangel colocou em algum de seus posts sacanas que em cinco anos os jornalistas costumam entrar em algum tipo de surto psicótico com a profissão.

Pois bem, isso meio que me marcou.

Neste período, já pude participar de muitas coberturas marcantes, ainda que a maioria de dentro da redação. Tive oportunidades de, por exemplo, ver de perto tanto a presidente da República quanto alguns ídolos do futebol algumas vezes, de acompanhar ao vivo o Mercado Público arder em chamas e de quase chorar escrevendo matérias sobre o incêndio da boate Kiss. Sem falar em outras tantas e tantas coberturas que, periodicamente, até se repetem.

De cobertura em cobertura, de análises em análises da mídia, o brilho do jornalismo ficou um tanto quanto opaco para mim. Talvez ele não fosse bem como eu imaginava há meia década. Para melhor e para pior, ressalta-se.

Verdade é que comprei uma ilusão nos corredores da faculdade que frequentei – e que depois voltei para uma pós-graduação. Julgava-me pronto, como disse, mas não passava de um fedelho. Talvez me sobrasse técnica, e também ingenuidade. Erro esse que não sei se foi corrigido na academia e que, com o passar do tempo, enfraquece o jornalismo, em especial numa era como a nossa, com tantos canais de comunicação – e opinião.

Refletindo um pouco, percebo agora que o dia a dia em uma redação me fez endurecer, a base de algumas felicidades e muitas frustrações. Tornei-me um cara mais crítico a tudo com o passar dos dias, do verbo utilizado em alguns títulos à reivindicação salarial da categoria.

Hoje olho para cinco anos atrás e concluo que, na verdade, estava despreparado para muito do que viria depois – assim como muitos colegas, que hoje desertaram de antigos sonhos. Eu estava embriagado.

Das boas lembranças

   E foi de repente. Há pouco, esperando o sono chegar, quando comecei a ver fotos que há tempos não via, ouvir músicas que desde muito não escutava. Sorrateiramente, então, ela chegou. Quieta, de mansinho. Pegou-me desprevenido, a saudade. Saudade boa.
   Saudade de não sei bem o quê. Saudade simples, de tudo. Nostalgia. Dessas que vêm em forma de retrospectiva. Desde lembranças da época de gurizinho, de quando não tinha a palavra ‘problema’ em meu vocabulário até agora, madrugada fria em frente ao computador.
   Começou com a visão da minha sala de aula rodeada de prateleiras com brinquedos, quando o jardim era da infância. Até a minha primeira namorada reapareceu. Francine – apesar de sequer tê-la beijado, lembro do dia em que começamos relacionamento sério. Acho que nossas idades, somadas, não somavam uma dúzia.
   Claro, mais tarde vieram muitas outras paixões inesquecíveis. Futebol, sorvete, a vizinha do andar de cima, ouro branco, praia, verão – e como era bom quando as férias duravam três longos meses. Tantas e muitas até uma em especial se sobressair para mudar a vida do adolescente de 17 anos: jornalismo.
   Embora nunca tenha tido a pretensão de apresentar o Jornal Nacional, eu sempre achei que ver o próprio nome ali, acima de um texto impresso em um papel que um monte de gente vai ler, devia ser bem legal. E de fato é – seja a assinatura com tinta ou com pixels!
   Flertei com a profissão desde os 14 e, com 18, fiz o primeiro vestibular. Por sorte, rodei – ainda bem, pois o destino reservou uma das turmas mais inesquecíveis da Famecos (isso na opinião do corpo docente). Aos amigos que não fiz na UFRGS e na UFSC, meu sinto muito.
   O fato é que foram quatro deliciosos anos até a melhor lembrança boa que tenho: o 9 de janeiro de 2009. Nessa data recebi, orgulhoso, o meu diploma – aliás, quantas saudades do tempo em que ele valia alguma coisa para a sociedade.
   Recém formado, distribuí currículos redações afora. Brasil afora. E nessas voltas da vida, fui chamado logo em um dos lugares onde menos acreditei. O qual na verdade nunca imaginei que trabalharia: Jornal do Comércio. Proposta de site novo e tal. Bem a área pra fazer os olhos do foca de então brilharem. E realmente eles brilharam.
   Entretanto, em mais uma dessas voltas da vida, meu endereço comercial mudou no apagar das luzes de setembro. Da avenida João Pessoa para a esquina da Caldas Júnior com Andradas. Dejà vu: proposta de site novo e tal – dessas, capazes de fazer os olhos do jornalista aqui brilharem.
   E foi então que vi como ser profissional é chato às vezes. Ter de correr atrás dos próprios sonhos abdicando de amizades cotidianas estabelecidas e de um ambiente de trabalho ótimo. Começar tudo de novo. Quem mandou acreditar que a vida é movida a desafios?
   Ao menos, tive uma certeza: daqui a pouco tempo – certamente menos do que os sete meses em que estive ali – quando ouvir uma música antiga ou vir fotos que há muito não via, terei uma nova saudade. Uma gostosa nostalgia dos colegas do meu primeiro emprego.

O homem, o mito, a lenda

bolt   Usain Bolt continua imbatível no Campeonato Mundial de Atletismo, que está sendo disputado em Berlim. Nesta quinta-feira (20), ele conquistou mais uma medalha de ouro, agora nos 200m rasos, com direito a quebra de recorde mundial. De novo. A medalha de prata ficou com Alonso Edward, do Panamá, e o bronze com o norte-americano Wallace Spearmon. Com a vitória, o jamaicano repetiu a dobradinha dos Jogos Olímpicos do ano passado, quando também foi campeão dos 100m e dos 200m.
   Usain Bolt disse, nesta semana, que queria virar uma lenda, um mito do esporte. E ele comprovou isso. Fenômeno das pistas, homem-voador, pulverizador de recordes, qualquer um desses adjetivos pode muito bem virar um sinônimo de Usain Bolt, disparadamente a pessoa mais veloz deste planeta.
   A prova dos 200m rasos pareceu um déjà vu de domingo (16), quando foi disputado os 100m rasos. Na ocasião, Bolt simplesmente não deu chances aos adversários e cruzou a linha de chegada (bem) a frente dos oponentes e estabelecendo um novo recorde mundial (9s59). Hoje, a história foi idêntica.
   Assim que entrou na pista do estádio olímpico de Berlim, a atmosfera ficou diferente. Alheias as outras provas que ocorriam simultaneamente, as câmeras voltaram-se para o atleta da Jamaica. Simpático, ele retribuia a atenção com sorrisos, beijinhos e acenos para a torcida alemã. Ele era o dono da festa. E sabia disso.
   Quando a prova começou, já nas primeiras passadas, o jamaicano mostrou que não daria chance para os outros competidores. Logo, logo, eles ficaram para trás. O adversário de Bolt, então, passou a ser o tempo. Que ele seria o vencedor, não havia mais dúvida desde a metade da prova. Naquele momento, a questão era: com recorde ou sem?
   Nesse duelo, de passada em passada, Usain Bolt foi vencendo. E, a uma distância considerável do segundo lugar, chegou na frente. O relógio marcava 19.20s – depois corrigido para 19.19s. Nem o tempo foi páreo para Bolt, o novo campeão e recordista mundial da prova dos 200m rasos. E, claro, nova lenda do esporte!

Publicado no JC antes!

Rotina online

   Que pauta? Tá! Vamos ver, hmm, aham, aham. Vai, escreve. Para, presta atenção. Olha o que ele tá dizendo. Boa essa frase. Copia. Digita. Mais rápido. Não tem nada no site da Zero Hora ainda. E nem do Globo! Vai, mais rápido. Digita logo. Peraí, peraí, peraí, escuta isso. Checa!
   Vai foto? De agência ou nossa? Qual? Acho essa, a melhor. Quem tirou? O texto tá quase pronto. Anda, vai. Revisa logo. Puta-que-pariu de palavra repetida. Me dá um sinônimo pra ela. Tá quase pronta. E a Zero ainda não deu. Beleza. Aguenta aí mais um pouquinho. Olha essa vírgula. Ela não existe, tira ela.
   Pronto? Revisa mais uma vez. E o título? Pode ser. Deixa eu só fazer uma linha de apoio. Não, não, essa palavra já tem na cartola. Bota a outra. Pronto!
   Vamo lá. Ah, servidorzinho, não cai, não cai, anda, anda. Abriu! Crtl C, Crtl V, tá, tá, tá. Publicar e…. beleza!
   Pode ir pra na capa!!!
   Qual é a próxima?

“Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.”

Gabriel García Marquez

Dia histórico em Roma

   O dia 30 de julho de 2009 entrou para a história da natação do País. Nesta data, um brasileiro voltou a subir o lugar mais alto do pódio em uma prova de Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos. Fato que não ocorria há 27 anos, desde a vitória de Ricardo Prado, em 1982. Um longo jejum, que terminou na tarde ensolarada de Roma, sede da competição deste ano, quando César Cielo Filho terminou na frente a prova dos 100m livre.
   O paulista de Santa Bárbara d’Oeste comprovou porque é o maior nadador brasileiro da atualidade e está na trajetória certa para até se tornar o mais importante da história desse esporte no País. Aos 22 anos, ele já é dono de conquistas importantes. Como ano passado, quando roubou a cena nos Jogos Olímpicos de Pequim ao faturar duas medalhas – bronze nos 100m livre e ouro – o único do Brasil na natação – nos 50m livre.
   Na final desta quinta-feira (30), havia oito finalistas. Oito sonhos dourados. No entanto, o protagonista desta tarde foi César Cielo. Quando os árbitros autorizaram os competidores a cair na água, ao lado do Cielo estavam atletas tão e até mais vitoriosos quanto ele. Como os também medalhistas olímpicos, Alain Bernard e Frederick Bousquet, ambos da França – e que vieram a ser seus colegas de pódio mais tarde.
   Como era de se esperar de uma prova final de Campeonato do Mundo, o equlíbrio se fez presente. Na virada, Cielo estava em segundo: 0,03 segundos atrás de Frederick Bousquet. Tempo esse que, para a maioria das pessoas, pode nem ser perceptível, contudo para um nadador pode significar o intervalo entre a glória e a derrota.
   Consciente disso, o brasileiro apressou ainda mais suas braçadas para não só terminar em primeiro, mas também deixar para trás o recorde mundial do outro oponente francês da prova, Alain Bernard. Uma medalha de ouro conquistada em 46s91. Uma conquista para colocar César Cielo na história da natação. Mais uma vez.

Um pouquinho de jornalismo esportivo, originalmente escrito pro JC.

Primeiro mês. Ou momento confessional nº 5

   Neste 2 de abril, faz um mês que trabalho no Jornal do Comércio
   Eu sei, eu sei, não é o mais lido de Porto Alegre e nem o mais influente. Contudo estar numa redação é um aprendizado enorme. E especialmente na de um impresso – que, pra mim, é onde o jornalismo se mostra mais “romântico”. É onde tem aquela coisa de escrever o texto certo, sem repetição de palavras, dar o furo e levar – da melhor forma – a notícia para o leitor. Bem como pregava o mestre Leonam nas minhas noites famequianas.
   Nesse mês de adaptação e observação da vida real, confirmei outro ensinamento da faculdade. Aliás, um mandamento (o jornalismo também tem seu Decálogo), dos mais importantes, passado pelo professor Juremir Machado da Silva lá no primeiro semestre do curso: “Revisão é uma obsessão”. Isso porque, aquele grito de Parem as máquinas!!! pode não ser algo agradável. Afinal, temos que levar a informação certa, escrita de maneira correta.
   Claro que daqui a um tempo, não vou dar bola para esse hábito rotineiro e trivial, mas, pelo menos por enquanto – ainda no calor da emoção de recém-formado (e contratado) – uma das coisas mais legais que acho falar é: “vou estar lá no jornal”. Bobagem, sei, porém passei por quatro anos de Famecos pra poder dizer essa frase. Além disso, chegar em casa à noite com o jornal de amanhã debaixo do braço é no mínimo curioso… Eu sempre quis fazer isso.

As águas de março

    As águas de março, além de fecharem o verão, quase sempre reservam algo novo à minha pessoa. Não um fim de caminho, mas o começo de um novo, a ser seguido pelo restante dos meses do ano, ou mais. Muitas vezes bom, por algumas, nem tanto.
    Já perdi as contas de quantas vezes retornei às aulas neste mês. Fim de férias, das tardes à beira-mar, do sono até mais tarde etc. Porém, mudanças significativas mesmo, ocorreram nos meus últimos marços. Como no dia primeiro do ano de 2004…
    Lá estava eu, imberbe, com longos cabelos cacheados, na frente do 3º Batalhão de Comunicações do Exército. Em todas as oportunidades que algum sargento tinha perguntado se queria servir, respondi: não. Mesmo assim, meu nome estava na lista dos soldados do Efetivo Variável 2004.
    Nos dez meses seguintes, acordar às 7h era dormir bastante. Compensei os dois anos sem cortar o cabelo sentando na cadeira do barbeiro 33 vezes neste período.
    Novamente no dia primeiro, contudo em 2005, comecei a realizar um sonho. Admirado, entrava na PUC pela primeira vez como aluno, rumando à Faculdade de Comunicação Social. Nesta vez que eu prometi a mim mesmo, pela primeira vez, que nesse semestre eu só iria estudar…
    O ex-soldado transformar-se-ia em jornalista, num processo de quatro anos, com muitos trabalhos, bastantes noites viradas e intermináveis filosofias de bar.
    No ano seguinte, 2006, março reservou a felicidade do primeiro estágio remunerado. Com um portentoso salário de R$ 400 e alguma coisa, me considerei ‘milionário’ – natural pra quem, em 2004, recebia um soldo de R$ 153, com descontos.
    Deste ciclo, guardo bons amigos, alguns desses, inclusive, motivaram a criação da Telha do Tiago.
    Talvez para compensar um branco em 2007, 2008 reservou duas boas surpresas: um free-lancer e um reencontro. Ambos, apesar de nem parecerem duradouros num primeiro momento, se estendem até hoje.
    Agora, apesar da falta de qualquer perspectiva animadora para recém-formados, as águas de março conseguiram me empurrar ao primeiro emprego. No dia 2, o ex-soldado entregou sua carteira de trabalho, na qual está escrita ‘jornalista profissional’, ao Jornal do Comércio.
    Pode ser só mera coincidência, nada demais, coisa tola. No entanto, é uma coincidência capaz de tornar março um mês bem especial pra mim.