Divulgação científica

Um dos tópicos da dissertação que precisarei escrever é sobre a divulgação científica. Neste início de janeiro de 2024, coube a mim apresentar uma aula sobre o assunto a alunos do quarto ano do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS.

O que é divulgação científica, a que se propõe e onde ela ocorre? Quais seus desafios perante um mundo ultraconectado em que, apesar do conhecimento produzido por universidades e pesquisadores, ainda surgem teorias e narrativas anticientíficas? Qual a sua relação com o jornalismo?

Essas foram algumas das perguntas que busquei responder na apresentação a seguir, também disponível neste link.

Divulgação científica de Tiago Medina

A cidade com eme no céu

*Crônica feita originalmente na disciplina Laboratório de Narrativas Urbanas, do Propur/UFRGS, e publicada na revista Parêntese.

Começou lentamente, mas, pouco a pouco, ele foi se espalhando pelos céus da cidade. Um eme. Em azul e amarelo, foi dominando certas paisagens daquele lugar que leva alegria até no nome.

Colocado bem acima do verde até outrora mais presente no horizonte da cidade, o eme adentrou de ruas de bairro a avenidas famosas. Basta olhar adiante e, pá!, eis que surge aquele símbolo áureo-cerúleo.

Sob as três perninhas desse eme, soterraram-se décadas de histórias e resquícios do que um dia fora aquele lugar – que hoje até está diminuindo, mas já foi, e ainda é, porto de muita gente.

Ainda assim, para alguns o eme é o eme de modernidade. Quem não iria gostar de altas torres de vidro no lugar de prédios velhos? Quem não gosta de alto padrão a perder de vista?

E ainda com marca assinada, garantindo um status lá no céu, para todos verem. Um eme. Em azul e amarelo, claro.

Mas não para por aí. Numa época de parceirizações, por que não levar o eme da moda a ainda mais lugares? Com luzes nas árvores das ruas, com atrações com nomes in English. Um shopping com eme no teto, um parque com o eme no chão.

E tudo meio assim. Uma cidade com eme, de mescla: agora tudo é privado, mas meio público. Tudo é meio público, mas também privado. Confuso? Na dúvida, olhe para cima. Vai ter um eme lá, lembrando onde você está.

Como eu cheguei até aqui


(foi de bike, mas com muita reflexão também)

Prefácio
Teve uma vez que, empolgados com qualquer coisa, eu e o meu primo Gustavo saímos pedalando da casa dele, no Cristal, até a casa da nossa avó, no Menino Deus. Encaramos as ruas, subimos e descemos ladeiras. Enfim, chegamos. Ainda mal adolescente, me ocorreu um pequeno estalo: então a bicicleta também pode ser um meio de transporte.

Capítulo 1
Na minha vida acadêmica e profissional, eu sempre estive à noite. Trata-se de um elemento presente e constante à minha vivência. A noite, tal qual o mar, é algo tão fascinante quanto traiçoeira. É bonita de se frequentar, mas sabe-se lá quais os perigos que se corre em uma empreitada mais profunda. Diverte, assim como exige respeito e impõe receio, conforme a hora passa – no meu caso 22h, 23h, meia-noite, 1h. Muitas das minhas voltas para casa, de moto, eram ágeis, ainda que não totalmente sem riscos ou completamente sem detalhes.

Capítulo 2
2018. E com ele, anos a fio de rotina começaram a ruir por conta da greve dos caminhoneiros. Nem durou muito tempo, foi questão de dias, mas mesmo assim teve gente que resolveu passar longas horas numa fila de posto de gasolina – um lugar que normalmente não gosto de ficar nem 5 minutos. Enquanto muitos precisaram ou queriam ficar perto dos motores de seus carros, deixei o veículo desabastecido na garagem e me fui a pé até a estação mais próxima do BikePoa. Bicicleta, afinal, também era um meio de transporte. Eu lembrei disso.

Capítulo 3
A experiência do ano anterior foi efêmera, mas deixou marcas, mesmo quando a normalidade foi retomada logo em seguida. E o destino me reservou, no ano seguinte, uma bicicleta velha, então esquecida na casa do meu pai. Apesar de algumas ferrugens aqui e ali e uns quantos dentes meio tortos, engrenamos um relacionamento sério. Logo resolvemos, eu e ela, encarar a vida – e a noite.

Capítulo 4
Superada aquela tensão comum no início de cada jornada, entrosamo-nos meses seguintes. E então a bicicleta fez então abrir novas percepções de ruas, bairros, praças, tensionamentos e questionamentos da minha cidade. Ao reduzir minha escala, me encheu de dúvidas e curiosidade, além da sensação de necessidade para não escrever errado – afinal, como jornalista, talvez aquilo que eu publico tenha um certo peso também na construção e no planejamento de uma cidade.

Pedalando, então, cheguei até aqui. Humilde em prédio alheio, disposto a aprender.


Em 2023/1, eu, jornalista, iniciei o curso de mestrado acadêmico em Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano, da UFRGS – lugar onde tentei entrar mais de uma vez e não consegui ao longo de alguns anos. Não foi bem a imaginada porta da comunicação que se abriu para mim na universidade, mas a vida é abrir e desbravar novos horizontes, em novas escalas.

O exercício acima foi, talvez, o primeiro que fiz oficialmente enquanto aluno do mestrado. Apresentar-se contando uma história, na disciplina de Narrativas Urbanas. Diante de duas dezenas de pessoas desconhecidas, o que eu poderia contar? Resolvi explicar como eu, um jornalista, cheguei àqueles bancos acadêmicos.