Textos baianos: Saudade do Morro

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Havia 66 notificações pedindo alguma atenção em apenas um aplicativo de rede social. Isso sem falar nas mensagens, que sempre apareciam às dezenas quando o celular encontrava um mínimo de conexão. Tinha ainda os e-mails. Sisudos, carregados de compromissos, eles.

Mas havia também o mar! Bem em frente. E não apenas uma, mas quatro praias de águas verdes e pedrinhas multicoloridas de encantar crianças – e, ok, adultos também. Morro de São Paulo, Bahia. Uau, que diferença para seu xará do Sudeste. Sois verdadeiramente opostos batizados com o mesmo nome.

Ante aos compromissos de vidas permanentemente digitais, ondas. Ininterruptas. Não de dados, mas de vida. Uma vida mais simples e pacata. Mais ligada à natureza do que às possibilidades provindas de um cartão de crédito. Ondas que, pouco a pouco, carregam o peso de dias que quase não tinham fim na rotina do trabalho.

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Num mundo tão sem pausas, um recomeço à beira-mar do Morro de São Paulo é revigorante.

O mundo é sempre maior que a nossa opinião

mundo

O mundo é bem maior do que qualquer reprodução

Uma pequena continuação do post passado, talvez com ideias mais claras. A questão dita ali não é censurar a opinião, mas não deixar-se enganar pelo espectro da própria convicção. É necessário buscar a maior clareza possível, sempre, principalmente quando se fala a pequenas multidões, como são (ou eram) os leitores de jornais.

Por exemplo: dias atrás um colunista daqui de Porto Alegre escreveu que sua meta de vida é trabalhar até os 100 anos, que seu pai ou avô também labutaram terceira idade a dentro. Alcançá-los será motivo de orgulho ao jornalista com fama de intelectual na praça e espaço garantido a propagar suas opiniões desde uma redação ou estúdio com ar condicionado, sem falar no salário pago em dia e dos mimos do cordel dos puxa-sacos.

Neste assunto, mais recentemente, a revista Exame tentou emplacar uma comparação com Mick Jagger (!!) exemplificando como pode ser “ótimo” desde que haja preparação para isso. Uma matéria que deve ter lá seu mínimo embasamento, mas que soa muito mais como publicidade do governo da hora do preocupação com o bem-estar geral. Ainda mais se considerar a mudança editorial em cinco anos:

Não há nada de errado trabalhar até quando for possível, ignorar a aposentadoria. Porém acatar esse pensamento como majoritário acaba por demonstrar uma ignorância imensa da cidade, Estado e país em que se vive, onde trabalho, talvez na maioria dos casos, não seja sinônimo de prazer e sim de obrigação.

O Brasil – que já foi muito mais desigual, é verdade – é um país cuja média salarial não chegava a R$ 2,5 mil em 2016, com possível tendência de queda devido à recessão. Nas duas maiores capitais do Nordeste, essa média não chegava a R$ 1,7 mil. E só aqui estamos falando de 4 milhões de pessoas.

Tais números apenas para a questão ficar na esfera econômica. Há uma série de outros fatores, como esforço (e lesão) físico e exposição a riscos, que facilmente podem ser ignorados se o dito articulista – trabalhe ele em jornal ou não – mantiver-se concentrado apenas no computador à sua frente enquanto pensa qual ideia tornará pública a seguir.

Fará bem a eles (e seus leitores) perceber o quão grande é o mundo e suas diversas realidades. Muito maior que quantidade de likes, RTs e compartilhamentos que qualquer post. E bem maior que qualquer opinião de gente que não lembra a última vez que andou de transporte público na própria cidade no horário de pico.

ps: talvez seja bom para o contexto lembrar que vivemos num mundo onde oito pessoas têm a mesma riqueza que outros 3.600.000.000 seres humanos.

Textos baianos: A lenda

Olha! Se é verdade, não sei. Relato aqui apenas o que ouvi de um simpático senhor sentado ao meu lado em um pequeno bar no Pelourinho, coração de Salvador. Ele puxou assunto depois de o garçom recomendar cuidado ao mexer com o celular na rua, pois, conforme ele, ladrõezinhos passariam voando com meu telefone ao menor descuido meu.

Salvador (1)

Se avexe, não

“Esquente a cabeça, não. Ele fala isso só pra impressionar”, minimizou meu vizinho de mesa, que tão de pronto começou a conversar. Logo já se pareceu um amigo, algo adoravelmente típico do comportamento baiano.

Papo vai, papo vem e ele começou a contar que foi no Pelourinho que Carlota Joaquina tomou seu primeiro banho depois de semanas a fio dentro do navio que trouxera a comitiva portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro, uns dois séculos atrás.

E falando em estrangeiros, bom visitantes eram mesmos os holandeses, disse ele. “Esses não queriam dominar ninguém, apenas fazer comércio. E quando diziam que era inseguro, mas veio até um príncipe por aqui naquela época”, contou, referindo-se, imagino, ao início do século XIX (ou mais cedo ainda, no século XVIII), mas sem mencionar o nome do nobre da realeza.

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Pelo amor ou pela guerra, nunca foi fácil deixar a baía para trás

“Mas correram com os holandeses”, lamentou, ao iniciar a contar a parte mais interessante da história. Segundo meu novo amigo, que solitário tomava uma cerveja, que dois navegantes holandeses sobreviveram a um bombardeio na saída de Salvador. Por sorte e resistência conseguiram nadar até a ilha da Itaparica, ao Sul da Baía de Todos os Santos.

Entretanto, o destino seguiu cruel com a dupla, que nadou, nadou até chegar logo à beira da praia onde vivia feliz uma tribo de índios. Canibais, no caso. Habituados a engolir só a carne seca do nordestino, logo viram com bons olhos aquela “carne gorda” europeia. Sem perder tempo foram à forra logo depois apreciando os músculos e a gordura de um deles. O outro navegante holandês prisioneiro foi mantido preso, “para engorde”.

Acontece que, em meio aos seus últimos dias, o rapaz de olhos claros holandeses chamou a atenção da filha de ninguém menos do cacique local. E mesmo não falando idiomas semelhantes, a linguagem corporal bastou para que houvesse encontros às escondidas entre a “princesa” da tribo e o jantar vindouro.

Ela, apaixonada, fez apelos ao pai para que soltasse aquele pedaço de carne. Pouco adiantou. Tempos depois o holandês foi devidamente temperado e comido pela tribo. Mas deixou lembranças, a principal delas no ventre da moça, que nove meses depois deu à luz a um novo indiozinho.

Só que, rapidamente constataram, era um indiozinho diferente. De pele meio escura, cabelos negros e olhos claros. Um indiozinho que, conforme a lenda que tarde dessas ouvi no Pelourinho, era ninguém menos que o primeiro caboclo do Brasil.

Se é verdade? Chicó responde:

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As pazes com Maceió

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Navegando por águas tranquilas

Se o dia anterior havia sido um tanto frustrante, ao menos a manhã veio com uma nova oportunidade. Já atento tanto à hora e à maré, pulei cedo da cama e, num horário considerado pornográfico para mim, já estava na praia de Pajuçara, em Maceió, sabendo que a maré estava vazando.

Consegui zarpar na primeira jangada rumo às piscinas naturais para enfim conferir se Alagoas é mesmo o paraíso das águas, conforme o marketing local anuncia. Parêntese: por acaso e sorte negociei um passeio direto com o jangadeiro e não com um intermediário. Como de praxe em todo o comércio nordestino, tive alguma margem para a pechicha. O telefone dele é 82-98742.8896.

Da areia à área delimitada das piscinas são 15 minutos navegando por um mar tranquilo e protegido das grandes ondas pelos corais mais adiante. Atentos perceberão desde logo tartarugas e outros peixes nadando na volta.

Passados dois quilômetros chega-se às piscinas. E finalmente se pula naquela convidativa-e-morna-água-azul-turquesa-de-não sentir-saudade-de-Caribe-algum. Malandros que são, os jangadeiros levam para o mar pedaços de pão, que são jogados aos peixes que, mais malandros ainda, aproximam-se para abocanhar a refeição fácil, enriquecendo a experiência.

Em outros horários, jangadas-bares ancoram por ali, porque um dia alguém se deu conta que vender bebidas lá seria um grande negócio, em virtude das geladeiras mais próximas estarem um tanto quanto longe.

Após uma série de mergulhos, finalmente fiz as pazes com Maceió após aquela tarde pouco abonada nas redondezas da capital. Posso lhes garantir que, depois de duas semanas de um frio porto-alegrense, algumas vezes já me peguei suspirando de saudade daquele mar.

Maceió piscinas

Reparem nos peixes e em Maceió lá atrás

Sobre hora e maré no Nordeste do Brasil

Maceió (1)

Dependendo da hora, o negócio é ficar dentro ou fora’água

Eis dois fatores que o pessoal daqui do Sul não atenta muito, mas que são fundamentais no Nordeste. Primeiro, a hora. No Nordeste o sol nasce mais cedo que nos lados meridionais e às 6h o dia não só raiou, como até um calorzinho já faz. Na outra ponta do dia, 17h o pessoal já começa a se preparar para ver o pôr do sol.

Ou seja, chegar às 15h30min, 16h na praia é quase para se preparar para ver a noite chegar ao som das ondas. É o tal clima de “fim de festa” que citei no post anterior, quando da vez em que estive na Praia do Francês. Digamos que 16h equivale a cerca de 17h30 no “fuso” gaúcho. É a chance de um mergulhinho e deu, em suma.

Outro ponto importante: a maré é fundamental para a maioria dos passeios turísticos. Tanto as jangadas em Maceió, quanto os barcos das praias do Gunga ou do Francês – e, imagino, em Maragogi – só navegam na maré baixa. O mesmo vale para os mergulhos. Se chegar atrasado, perde-se o dia.

Aconteceu comigo em Alagoas, mas poderia ter ocorrido dias antes na Bahia, onde só pude aproveitar as piscinas da Praia do Forte por ter chegado na baixa da maré. E, em verdade lhes digo, valeu – e muito – ter se atentado a este detalhe e feito a programação correta.

Mas como saber quando a maré vai estar alta ou estar baixa? Existe a opção interpessoal de perguntar a guias e/ou pessoas que oferecem os passeios e também há a boa e velha alternativa nerd e prática: a internet. A Marinha mantém este site atualizado diariamente. Outros aplicativos também fazem o mesmo.

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Na maré alta, jangada boa não vai pra água

Maceió mais ou menos

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Coqueiros & Mar: chatos dirão que é entediante

Logo que se chega – e se anda um pouco – por Maceió percebe-se que a capital alagoana não é lá bem o que se pode definir como uma cidade bonita por seu conjunto da obra. Tem, sim, uma das orlas mais lindas do Brasil. Mas para dentro da cidade deixa-se um pouco a desejar tanto no quesito urbanismo, quanto no que se refere à igualdade social.

Tal característica faz de Maceió um destino exclusivamente turístico de praia. A água ora verde, ora azul turquesa em um mar calminho é convidativa não só a banhos como também para passeios, mergulhos, pesca e o que mais possível for para se estar em contato com ela ou, de fato, imerso.

Só que esse lindo mar não banha apenas Maceió e algumas das mais famosas atrações ficam nas imediações, ou nem tanto, da cidade. E pacotes turísticos, transfers, taxistas e gente se oferecendo para levar os visitantes a esses locais não faltam. As abordagens começam desde que se desembarca no pequeno e funcional Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares, a uns 20 quilômetros do centro.

Como não havia acertado com ninguém, optei por alugar um carro com um desafio e tanto: conhecer as ditas lindas praias do Gunga e do Francês em uma tarde. Do centro de Maceió até o Gunga a estrada é boa, bem sinalizada e, de quebra, com uma paisagem repleta de coqueiros e algumas vistas para mar e rios da região. São uns 40 quilômetros de trajeto, ou nem isso, vencidos em pouco mais de meia hora.

 

O que me incomodou um pouco começou ao chegar ao Gunga. Antes de se descer à praia tem um mirante. Mas para se subir uns dois lances de escada e tirar uma foto legal são necessários R$ 2. Indo para a orla, antes do estacionamento, já há uma cancela com alguém cobrando R$ 10 para se deixar o carro – e não há outra opção de estacionamento em um raio de um quilômetro, quase.

Ao descer do veículo, logo algum dos vendedores já chega para oferecer as opções de divertimento por ali: aluguel de buggy ou quadriciclo ou um dos passeios de barco na região – de fato, linda. Com exceção do quadriciclo, que neste ensolarado abril de 2016 saía por R$ 100, o restante dos preços era tabelado de forma individual e não por casal, o que era o caso nessa ocasião. E por ali as negociações de praxe são feitas em cash. E talvez vocês saibam: a vida de um jornalista é dura, especialmente a carteira.

Com pouca grana na mão, não aluguei e não embarquei em nada. Então, haja perna! A praia é encantadoramente linda, perfeito cenário para qualquer filme em que retratasse a chegada dos portugueses ao Brasil, há cinco séculos. Da entrada até as famosas falésias são seis quilômetros, segundo os locais. Devo ter percorrido uns quatro até ter uma visão levemente satisfatória dessas encostas. E isso sob um sol forte e constante.

 

falesias praia do gunga

Ao longe, mas o mais perto que cheguei de graça: falésias

Conforme se anda, menor é o movimento na areia. Então tive a linda sensação de estar numa paradisíaca praia abandonada. Pero no mucho: a poucos metros das ondas passam os buggies e seus turistas indo e vindo das falésias. E aí o fato triste: muitos dos visitantes (ou mesmo os locais) “esquecem” alguns lixos por ali, numa natureza quase virgem.

Do Gunga fugimos ao Francês, onde chegamos por volta das 15h15min e encaramos uma realidade nordestina que os sulistas como eu estão pouco acostumados. Apesar do horário, meio de tarde na minha casa, o clima já era de fim de festa. Pessoal recolhendo barracas, bares encerrando o expediente etc. Como a maré já estava subindo, não havia muito mais o que se fazer por lá, além de tirar algumas fotos mais para dizer que um dia estive por lá.

Detalhe que quase passa desapercebido: a Praia do Francês fica na cidade de Marechal Deodoro, por ser a cidade onde este cidadão, que proclamou a República do Brasil em 1889, veio ao mundo. “A República nasceu aqui”, gabam-se seus conterrâneos, hoje, em uma pintura no viaduto de acesso.

A situação fez com que o meu único dia inteiro em Alagoas chegasse ao fim de forma um tanto quanto frustrante. “No pain, no gain”, afinal estamos num destino turístico e, com pouca grana na carteira ou uma mão fechada demais, as atrações ficam distantes e as imagens paradisíacas ficam nos cartazes dos outros.

 

praia do frances

Praia do Francês: pra não dizer que não fui

Textos baianos: A música

BahiaUm mea-culpa sobre a Bahia, para fechar esta primeira série de textos baianos. Música. Confesso que cometi o que considero um pecado logo antes de desembarcar para os 11 dias que ficaria em Salvador e generalizei. Preparei-me psicologicamente para passar este tempo todo ouvindo axé e ritmos potenciais reboladores.

Ledo engano!

Por isso peço perdão pelo que pensei a Gilberto Gil, a Caetano Veloso, Dorival Caymmi e tantos outros. A Bahia é, sim, muito maior do que qualquer axé, qualquer rima fraca que por ventura já tenha feito sucesso nacional – algo que nunca representou necessarimente qualidade musical.

Se a memória não me falha, já nesta tarde de chuva em Porto Alegre, peguei quatro táxis em Salvador. E em todos a música da rádio estava ótima. Uma MPB com artistas que não conhecia, e que fico devendo nomes aqui. Extremamente agradável, juro. Talvez estivesse na Rádio Educadora, que tem o selo de garantia do Rodrigo Oliveira.

Na maioria dos trajetos, o táxi deixou-me no Rio Vermelho, um tradicional centro boêmio recentemente renovado por obras. Por lá, diversas opções. Desde o fatídico sertanejo aos tuti-tuti eletrônico.

Por lá, faço questão de recomendar, parei duas vezes no Centro Cultural Casa da Mãe. Numa quarta ouvi chorinho que me fez voltar alguns anos no tempo, para quando via o saudoso professor Darcy Alves tocar em Porto Alegre. Numa quarta, um jazz encantador. E tudo isso a poucas dezenas de metros da estátua de Jorge Amado e Zélia Gattai, do acarajé da Dinha. De baianices clássicas, enfim.

Jorge e Zelia

Jorge, Zélia, o pug e a boemia

Mas, claro, estar em Salvador e não ouvir nenhuma batucada significa não ir a Salvador. Esse ritmo tão baiano se encontra nas ruas do Pelourinho, na praia do Porto da Barra. Mais hora, menos hora o ritmado som vai encontrar teus ouvidos. Sorria, afinal, você estará na Bahia.

 

Textos baianos: Os seios na praia

Um paraíso chamado Praia do Forte

Um paraíso chamado Praia do Forte

Ainda que estas palavras entrem neste blog com na série “Textos baianos”, elas não são necessariamente sobre a Bahia, os baianos ou as baianas. O fato em si é que ocorreu a poucos metros de uma das piscinas naturais que a maré baixa proporciona na Praia do Forte, a uns 80 quilômetros de Salvador.

Uma mulher de meia-idade. Já, naturalmente, tendo passado há alguns anos do seu auge físico. Ela estava com os seios de fora, em meio a outras tantas jovens mais bonitas, entre crianças que por ali brincavam, e não estava nem aí, mesmo não tendo silicone algum.

Não era linda ou exibicionista. Tranquila e segura de si, deitada com os seios de fora lendo qualquer livro à beira-mar, numa manhã de abril, era, acima de tudo, livre. E isso em tempos em que se debate ferozmente o feminismo e o machismo. Em que revista prega como exemplo ser bela, recatada e do lar.

Debates, por vezes cegos, que não chegaram à praia. Ao menos não àquela mulher.

Textos baianos: O baiano

Salvador porto da barra

Quinta-feira à tarde na praia do Porto da Barra

O baiano é um sujeito a parte dentre os brasileiros. Ao menos dentre os brasileiros que já tive oportunidade de conhecer ao longo desses 30 anos e quatro meses de vida. Distinto do rude gaúcho, do apressado paulista, do caipira mineiro ou do malandro carioca, para citar apenas alguns exemplos. O baiano, como toda cultura forte, tem seu jeito próprio, mas, acima de tudo, seu tempo e ritmo. O próprio sotaque não é necessariamente lento, mas cantado. E simpático.

O Brasil enquanto país, é bom lembrar, começou na Bahia, exatos 516 anos antes de eu iniciar a escrever este texto. E Salvador respondeu como capital brasileira por 214 anos, de 1549 até 1763 – até hoje é a cidade que mais ocupou este “posto” e seguirá assim até a segunda metade do próximo século. E é quase como se carregasse um traço de mãe-gentil desta pátria que o baiano age.

Com uma fala mansa e aquele dom de criar intimidade rapidamente, o que deve levar pessoas mais fechadas e/ou resguardadas a um certo ponto próximo do desespero quando chegam à maior cidade do Nordeste. Afinal, por certo são em poucos lugares onde o atendente ou garçom te chama de “amor” antes mesmo de qualquer pedido. E esse é só um mero e trivial exemplo.

Pecando pela generalização, mas todo o soteropolitano parece disposto a conversar ao menos um pouquinho com quem quer que seja, onde for.

O que, claro, não significa que os baianos sejam o povo mais feliz do mundo, quiçá nem do Brasil. Há mazelas, problemas, malandragens e maldades. Até, incrivelmente, racismo, escancarado na separação das quase 100 favelas da cidade e os prédios com vista para o mar. E também na pichação de protesto contra a truculência da polícia do Brasil, que teima em mirar negros, mesmo onde eles são maioria.

Por que ainda?

Por que ainda?

Porém, no geral, sem dúvida é uma gente hospitaleira e, coisa rara neste momento, livre de preconceitos xenófobos.

Eles têm fé, como aqui já foi citado. Na igreja, no candomblé… Não à toa que o mar que entra ladeando Salvador recebe o nome de Bahia de todos os santos.

Salvador orlaSalvador desde sua fundação foi uma cidade cosmopolita. Aliás, interessantíssimo o artigo da Wikipédia sobre Salvador. Nele, o historiador Cid Teixeira compara o investimento inicial em Salvador, no século XVI, com a construção de Brasília, mais de 400 anos depois. “Não se tratava de um povoado que foi crescendo. A cidade já surge estruturada. Salvador não nasce de um passado, mas de um projeto de futuro que era construir o Brasil. Por isso desde o início, a influência internacional na realidade local está presente em Padre Vieira, Gregório de Mattos, cinema novo e a tropicália”, complementou escritor e estudioso da cultura baiana e da música brasileira, Antonio Risério, à revista IstoÉ, em 1999.

Mas ao contrário do que ainda é Brasília, um amontoado de povos sem uma característica convergente, o baiano tem personalidade e cor: ele é negro, receptivo, orgulhoso de sua cultura, adorador de sua terra e, claro, de sua praia. Com toda razão.

Que mar

Que mar

Um post aéreo

Em dez dias, foram seis aviões e três destinos, além de escalas em São Paulo e Guarulhos. Da janela, um pouco aqui embaixo e um tanto lá em cima. Brincando com os aplicativos Vine e Hyperlapse deu para ajudar a passar um pouco do tempo entre uma cidade e outra.

O resultado, publicado ao longo desses dias de férias em Vine, Twitter e YouTube está aí, compilado neste post feito nas alturas:

Decolagem de São Paulo (CGN-SSA):

Salvador-Maceió (SSA-MCZ):

Decolagem Maceió (MCZ-SSA):

Um brinde: divisa entre Alagoas e Sergipe, onde fica a foz do Rio São Francisco:

foz sao chico

Do lado esquerdo da foto, Alagoas; do lado direito, Sergipe

Aterrissagem Salvador (MCZ-SSA):

Aterrissagem Porto Alegre (GRU-POA):
https://vine.co/v/iPdl1LVq9lh/embed/simple