Eu gosto de pensar que a internet é, tal como a moda, algo cíclico. Ter, finalmente, comprado um tablet nesta semana me fez voltar a essa reflexão. Um tablet, veja só. O primeiro que eu tenho. Depois de já considerá-lo tanto objeto de desejo e pesquisa, quanto algo bolorento e dispensável, consegui encontrar um espaço para ele na minha rotina.
Assim como uma gama de exemplos, é uma mídia que já teve altos e baixos em seus poucos mais de dez, 12 anos de vida. Se lá no início, ainda estudante de jornalismo, me empolguei com as possibilidades que ele poderia trazer à forma do jornalismo, que ainda tinha no papel impresso uma raiz muito forte, não muitos anos depois já preteria o tablet profissional por um celular pessoal na hora de uma cobertura – em especial no corre-corre que foi junho de 2013.
Agora mesmo, ele só entrou na minha vida a partir de uma demanda acadêmica. Encaixou-se como solução a uma demanda de uma situação a qual seria desconfortável ou antiquado levar o notebook e/ou calhamaços de cópias de livros impressas da rua para uma sala de aula, da sala de aula para casa. Terá, enfim, um papel para cumprir em uma rotina. Buscará ser essencialmente útil sem mais prometer grandes revoluções no lado profissional, ainda que possa oferecer novas experiências.
Lembro sempre que ouvi na pós-graduação de jornalismo digital que o e-mail estava morto. Foi uma frase que me marcou pela convicta crueldade com um formato tão consagrado, ainda que um tanto em baixa naquele momento, início da década passada. A aposta na época era nas redes sociais, então em ascensão e ainda com uma promessa de democratização à informação, na esteira da primavera árabe. Os jornalistas ouviam que os leitores estariam ali, como de fato estiveram considerável parte. Contudo, foi por um tempo apenas
“A internet vai virar o Facebook.” Ouvi isso mais de vez. Soa velha, mas essa frase tem dez anos de vida, 11 no máximo. Todo mundo estava no Facebook, era importante estar e interagir no Facebook como parte essencial ao cotidiano digital e social, como lazer e como profissional.
Pois bem, decidi neste 2022 não instalar o aplicativo do Facebook. Vai ser a primeira vez em anos que não farei isso em um aparelho meu. Dez anos depois daquelas premonições todas, esta rede social decaiu tanto a ponto de fazer até sua empresa-mãe mudar de nome – apostando agora em um outro caminho de futuro, que também parece familiar com algo que já passou por aqui. Se é errado dizer que não há mais ninguém por lá (ainda tem muita gente), pode-se afirmar que o futuro não passa exatamente por ali.
O irônico desta percepção foi notar que só usava o Facebook recentemente para clicar na aba “lembranças” e rever postagens, fotos e pessoas que um dia frequentaram o livro de rostos – que de certa forma não deixa de ter a mesma função de um álbum de fotografias analógicas.
A propagada promessa de futuro virou, pra mim, só espiadela rápida e procrastinadora no passado. Eu, hoje, fundador e editor de um jornal enviado por e-mail, mal uso Facebook, mas agora tenho um tablet (e estou postando este texto em um blog, claro). O que mais será que se reinventa desde o passado para a gente ver no futuro?