Epopéia Jorge Beniana

     Eu, como a maioria, gosto de Jorge Ben Jor. E, assim como a maioria também, não tenho lá muitas oportunidades de vê-lo ao vivo, porque raramente ele toca em Porto Alegre, além disso, muitos dos seus shows são em eventos vips – coisa que, definitivamente, não sou. Por isso, resolvi dar uma de fã e encarar uma indiada daquelas para assisti-lo no Planeta Atlântida de Florianópolis. Embora já (faz algum tempo) não tenha idade para isso. 

O Planeta Atlântida. Ou “Por causa de você…”
     Pra quem não sabe, o Planeta Atlântida era um grande festival de rock aqui do sul, realizado pela rádio Atlântida (criativo, não?). Digo era, pois a Atlântida há muito deixou de ser uma rádio rock – hoje toca até funk na sua programação – então o Planeta virou mais um festival musical, cada vez mais aos moldes do que tem na Bahia.
     Já gostei muito de ir ao Planeta. Ansiava quase um ano para que chegasse o grande momento. Era o máximo. Sujeirada, mulherada, pegação e, de quebra, alguns shows nacionais. Uhuu! Mas isso aconteceu no auge da minha adolescência. Pouco antes e logo depois do Brasil ser pentacampeão mundial de futebol.
     Hoje não mais. Por acaso, até fui no ano passado. Ou melhor, o meu corpo esteve presente. Em meu álcool havia muito sangue. Quer dizer, o contrário. Ah, vocês entenderam… O problema é que Jorge Ben Jor ia tocar nesta edição. O cara que embala todas minhas noites aventuradas e desaventuradas na cidade baixa. Tinha que ir. Era uma obrigação.

O dia. Ou “Chove chuva…”
     A chuva que caía em Porto Alegre na manhã de 11 de janeiro era desanimadora para a realização qualquer ato fora do leito. Coincidência ou não, nem ouvi meu despertador tocar e quase me atraso pro trabalho. Tive que ser macho o suficiente para encarar aquele tempo fulo e ir a labuta. Lá, dei um jeito e fiz o que tinha para fazer em 8 horas em 5. Mazá! Às 15h20min, rumei ao aeroporto, para dali a 40 minutos embarcar rumo a Ilha de Santa Catarina.
     Chegando ao Salgado Filho, uma surpresa. Onde está a maldita fila para o meu vôo? Última vez que viajei de avião – registre-se: pela Gol – mofei na fila até 15 minutos antes de embarcar. Dessa vez, não. Preocupação. Dirijo-me ao check-in da Tam e tenho uma péssima notícia: meu vôo sairia na hora. Por quatro minutos o perdi. Puta-que-o-pariu, cadê o caos aéreo??? Tive que esperar mais duas horas no aeroporto por causa dessa pontualidade. Menos mau que portava o “Noites Tropicais”, do Nelson Motta, e isso colaborou para o tempo passar mais rápido.

O vôo. Ou “A girar… Que maravilha”
     Viajar de avião é algo único. Principalmente pra Floripa, cuja duração do vôo é 40 minutos, a medida certa para não encher o saco das alturas. O legal mesmo ficar na janelinha. Lá cima, tudo é diferentemente menor.
     As nuvens então. Capítulo a parte numa viagem de avião. Elas têm fases à medida que se vai subindo. A primeira dela é a encardida. Logo depois da decolagem, todas parecem estar meio sujas – ou pelo menos pareciam, já que o tempo não tinha firmado ainda. No entanto, é só subir mais um pouquinho que todas embranquecem de vez. Alvas como propaganda de Omo Progress. A fase seguinte é o Éden. O Sol refletindo nas nuvens e brilhando, parecido com quadros paisagísticos-religiosos que minha avó tinha em casa, desses que dão esperança de que os problemas têm jeito e todos podemos ser felizes. Sensacional, essa visão. Até se tornar monótona e perder a graça. Aí é hora de olhar para outra coisa. 
     O avião que estava dispunha de 11 canais de ‘rádio’. Interesso-me pelo canal três, cuja programação, segundo a revista, anunciara Maria Rita em ‘Samba Meu’. Tri! Queria mesmo conhecer esse disco. Conecto o fone e mesmo com seus dois plugs, havia um mau contato leve, porém irritantemente percebível, daqueles que a única solução é ficar apertando de uma maneira mágica. Azar! Funcionava, ao menos.
    O locutor começa: “alô amigos passageiros da Tam, hoje faremos um especial de uma dupla muito especial” – Putz! Duplas especiais… – “Sandy e Júnior!!!”. Merda. Ao invés da filha de Elis Regina, os filhos do Chitãozinho (ou seriam do Xororó?) no canal 3. Recorri a outro canal de música imediatamente.
     Não sei se foi o lanche servido pelas lindas aeromoças ou os milhares de pés de altura que provocaram um mal-estar súbito na passageira alocada na minha frente. Mas quando ouvi aquele barulho – um som intraduzível para onomatopéia – e senti um cheiro nojento de vômito, percebi que os últimos minutos de vôo seriam longos. Éca!
     De repente, o alvo fica escuro. Começamos a descer. Turbulência, cheiro de vômito, poltrona na posição vertical, que esse avião chego logo, pelamordedeus!!!
     Quando já era possível avistar a ponte Hercílio Luz e nitidamente acontecia a aproximação do solo – no caso, mar –, o avião sobe. E certamente não seria porque a música do Seu Jorge estava boa no meu fone de mau contato. Medo! Não foi bem uma arremetida, mesmo assim: medo! A aeronave sobrevoa Florianópolis. Aos poucos, o temor foi sendo substituído pela tietagem na janelinha. Paisagem linda e, nesse momento, me dou conta que minha câmera está a 500km de mim. Lá de cima, vejo minha casa, o Campeche, o Morro das Pedras, as pontes, tudo isso. E minha câmera a 500km de mim… Que merda mesmo.
     O comandante, enfim, nos explica o motivo da manobra: tinha um outro avião na pista na hora do pouso. Se ele descesse, talvez acontecesse um acidente. Ah, então é aqui que está o caos aéreo!!! Eu sou um azarado mesmo.

A noite. Ou  “Prudência e dinheiro no bolso não faz mal a ninguém”
     Toquei o solo florianopolitano às 19h23min, quase duas horas depois do planejado. Chovia. E Planeta com chuva é motivador. Para ficar em casa. Como disse, já não tenho mais idade para isso. Tudo bem, não era agora que ia desistir, o Jorge ia tocar logo mais.
     Na ilha, precisava resolver alguns tramites pessoais e burocráticos. Um deles, era a questão da locomoção. Para quem não conhece, Florianópolis é uma cidade onde tudo fica longe de tudo. Inclusive o local do show da minha casa. Não tinha tempo para caminhar 30km, portanto precisava de um carro. O da minha irmã, que é um pessoa humanamente subornável, surgiu como uma boa opção. Lataria pouco amassada, pneu meia-boca, mas andava, oras. Depois de uma rápida negociação, fui-me.
     Assim que comecei a dirigir o automóvel, Chorão, do Charlie Brown Jr, dava boa noite pra ‘galera’. A banda fez o último show antes do Jorge, ou seja, tinha pouco tempo, já que estava no continente, teria que ir até o norte da ilha pra buscar o meu amigo – e também fã do Jorge – Rodrigo, voltar um pouco para o sul, estacionar, trovar cambista, comprar ingresso e entrar. Um dia farei as coisas com um pouco mais de planejamento, prometo.
     O percurso ia tranqüilo rumo a canasvieiras. A estrada meio cheia, claro, porém, estava andando e isso me aliviava. O Charlie Brown fazendo um show muito parecido, com as mesmas falas entre as músicas, as mesmas marras e mensagens da época que eu era fã deles – no tempo que eu gostava do Planeta. Pouco antes da entrada de Jurerê, o engarrafamento previsto. Tudo bem, já esperava. O problema é que tinha ambulantes vendendo água na beira da estrada e caminhando por ela – o que já é bem ruim –, sinal de trânsito lento. Só que, pior ainda, é que eles estavam andando vaga e distraidamente e, ainda assim, mais rápido que o meu carro. Tensão, tensão.
     Numa velocidade pouco maior que a inércia, rodei 10km. No momento que Chorão acabou o show, passei na frente do Planeta. Podia ter marcado com o Rodrigo ali mesmo, canasvieiras não era longe. Mas não. Por que eu faço tudo em cima da hora sempre??? Segui mais alguns minutos até encontrar meu amigo. Quando ele entrou no carro, percebi que daria tempo pra chegar lá e ver a tão esperada apresentação.
     Acelero rumo ao Planeta. Vai dar, vai dar. O Jorge já está para entrar no palco. Acho um buraco – pago, obviamente – para deixar o carro. A banda começa a se posicionar. Desço do carro, a mulher me pede ‘vintão’ pelo estacionamento. Jorge começa a tocar sua guitarra. Descubro que os cambistas querem R$ 100 pelo ingresso, porque ‘tem Ivete depois’. O público vibra. Eu desanimo. Todo mundo canta. Eu vou embora. Frustração…

Sin perder la ternura jamás. Ou “Pelas moças bonitas, eu vou torcer”
     O que fazer? O relógio marcava 23h, cedo ainda. Se não vamos até Jorge, ele que venha até nós. Pelas ondas do rádio, sem graça, mas, um tipo de consolo. Acabamos indo para um boteco em Jurerê Internacional tomar uns chopes. A todo momento, o Rodrigo suspirava: “Logo hoje, que até me vesti de planetário?!”. Sim, ele estava mal-vestido, coitado.
     Depois de dois chopes e conversas acerca de diversos assuntos, saímos de lá. Dirigimo-nos para o lugar mais portenho de Santa Catarina: canasvieiras. Não me pergunte o que fazia ali, também não sei. Sorvi uma cerveja quente de marca desconhecida em uma birosca de oitava categoria e tendo o espanhol como língua principal. Situação periclitante.
     Eis que chegam três gringas, faceiras e a fim de papo. Descobri que conversar com argentina bêbada é uma coisa difícil. Tanto em espanhol como inglês – português é impossível para elas. Insisti dez minutos. Queria um consolo para minha frustrada tentativa de ver o show, entretanto uma hora é preciso aceitar a derrota. Essa hora chegou quando a argentina feia e de verruga no nariz aproximou-se perigosa e maldosamente de mim. Aí sim, percebi que a noite tinha chegado ao fim. No outro dia teria que voltar a Porto Alegre. De fusca, ainda. Porém, a história deste possante fica para o próximo post.
     Enfim, maldita seja a Ivete!

10 pensamentos sobre “Epopéia Jorge Beniana

  1. Um dia eu consigo escrever um texto assim… Podia ter feito por capítulos, publicados ao longo da semana… Parece um sitcom da Globo… Não pretende ser roteirista? Enfim… Fica pro próximo né? heheheheh
    Abração

  2. E tem Jorge aqui! Melhor do que isso, só se o outro Jorge (o “Seu”) viesse de novo.

    E sim… Estamos velhos pro planeta. Sendo que eu sou mais nova que tu. Há 3 anos eu digo que nunca mais vou no planeta. Mas vou há todos há 6 ¬¬

    Seria isso uma falta de determinação de minha parte?

  3. Já te falei que sou teu fã!!!! Amei o texto Tiaguito! Olha só, tu tá me devendo descobrir qual era nosso desafio, mas te sugiro outro…escrevi no blog um textinho sobre os dois lados de uma mulher qualquer…mas não tive vocação pra escrever sobre os dois lados de um homem qualquer, portanto, te sugiro que faça isso por mim…é bom conhecer os dois lados de um homem, pode ser útil…nossa ceva na Cidade Baixa com a Escuta rola quando heim??? Bjus

  4. Credo tiagoo.. que horror.. que endeadaaa!
    mas ta valendo pelo simples fato de q vc estava em floripa!
    beijos te amo

    ps: adorei o texto!

  5. A-DO-REI!
    Fiquei torcendo pelo final feliz dessa aventura!heheh
    pena que não rolou =/
    e porque não vai pro Jorge Ben aqui?tá valendo heein!Vou “por causa dele”…hehehehehe
    aaah, dei uma atualizada no blog lá, se quiser dá uma olhada!
    beijoss!

  6. Grande jornalista/colunista/cronista Tiago Megina!
    Tu tem futuro guri! Eu aposto em ti!
    Beijo na cabeleira piolhenta :-)!
    Bassanão.

  7. Cara, muito bom texto, muito bom mesmo. Fico honrado de ter sido coadjuvante na epopéia que rendeu tão rica literatura. Sujiro o volume 2. O roteiro começa a ser escrito nessa sexta e já têm até título para o primeiro capítulo – “Pegando a freeway às 19h00 de uma sexta”. Aguardem…

  8. Não acredito, mané… Puta que o pariu… pq tu não comeu a Argentininha feiosa, seu desgraçado? Dizem que elas gostam de dar o cu!

    Perdeu um cu, pakito…

    E mais, quando se está comendo uma argentina, basta colocá-la de 4, encaixar o pau dentro, encostar o peito nas costas dela, tirar as mãos e os pés do colchão e dizer:

    O Perón era corno e o Pelé jogou muito mais do que o Maradona!

    Depois disso ela vai pinotear de um jeito que tu terás o melhor sexo de toda a tua vida!

    Confia em mim e grita: Seguuuuuuuura peão!

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