O clima e o Natal

Kiribati

Eu tinha dez anos quando a novela “O Fim do Mundo” passou na TV. Foi uma novela atipicamente curta, apenas 35 capítulos – o que não deixava de ser paradoxalmente assustador, já que o fim proposto seria bem mais rápido que o normal. No derradeiro capítulo, como esperado, o mundo terminou. Foi por meio de uma sequência de bizarrices toscamente assombrosas – lembro de uma mula sem cabeça correndo na cidade fictícia.

No entanto aquilo me assustava. E até hoje, penso eu, não gostaria de presenciar o fim do mundo como ele era na minha infância, com monstros colossais ou asteroides imparáveis. Só que, como ser humano, e mais especialmente agora como pai, o passar dos anos criou em mim um novo medo maior: a emergência climática a qual atravessamos. E da qual, provavelmente, não passaremos.

Não deixa de ser um fim do mundo. Porém, a conta gotas. O que, assustadoramente, cria em nós enquanto sociedade, discursos negacionistas ou resignados. Retira-nos o poder de ação em massa. De quebra, quaisquer ações verdadeiramente eficientes demandariam revoluções, cá entre nós, impensáveis na economia. Foi um xeque-mate do planeta em nós, humanos.

Vejo o cenário de hoje, e o dos próximos anos, e me assusto. Já nem tanto por mim, mas pela minha filha. A paternidade vem com o instinto de proteção às crias. E às vezes é inconsciente. Coincidência ou não, desde que Maria Flor veio ao mundo, tornei-me um pouco mais verde. Deixei um pouco de lado a teoria e passei à prática.

Tudo o que fiz é muito pouco – e será desprezível frente ao todo. Ainda assim é uma parte que me cabe para passar um pouco de esperança. Até porque passar essa consciência ecológica adiante é algo essencial ao futuro dela. Maria Flor deverá preocupar-se desde cedo com o bom uso da água e as emissões de carbono, mas também com povos longínquos e às vezes quase imperceptíveis no mapa.

Crises de imigração serão cada vez mais constantes quando a terra natal tornar-se árida ou ser inundada, porque – não de repente – o clima mudou. E no primeiro natal da minha filha, eu gostaria de ensiná-la: Jesus Cristo, além de preocupar-se com o próximo, foi um refugiado.

Um pensamento sobre “O clima e o Natal

  1. Eu também tenho medo do que está acontecendo. Procuro falar sobre o assunto. Separo lixo! Descarto tudo que posso em lugares apropriados. Agora morando na praia, vivo juntando lixo da orla. Garrafas pet e latinhas levo para uma senhora que vende para reverter o valor em ração para cães abandonados. E também colaborar com o meio ambiente. Enfim, tento fazer algo! Um abraço!

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